João Araújo considera indecente divulgação do seu processo disciplinar

Advogado de José Sócrates aconselhou jornalista a tomar banho, porque “cheirava mal”.

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João Araújo Enric Vives-Rubio

Ter aconselhado uma jornalista do Correio da Manhã a tomar banho, porque “cheirava mal”, custou um processo disciplinar ao advogado de José Sócrates, João Araújo. Foi-lhe aberto pelo conselho de deontologia de Lisboa da Ordem dos Advogados, depois de a repórter ali ter apresentado uma queixa.

João Araújo considera “indecente” ter “sabido do processo pela comunicação social”, e entende que esse facto reflecte bem “o descontrolo” daquele órgão disciplinar. Não é a primeira vez que a Ordem averigua se as atitudes e comportamentos do advogado respeitam as normas que regem a classe.  Ao longo de uma carreira de quatro décadas João Araújo já teve outros processos. Garante que foi sempre ilibado – à excepção da última vez, em que ter chamado preguiçoso ao antigo inspector da Judiciária Paulo Pereira Cristóvão, num requerimento feito a um tribunal, lhe custou uma pena censura pelos seus pares. Não recorreu dela porque surgiu na altura em que José Sócrates foi preso, explica o advogado. “Fui censurado por ter ofendido o inspector na sua honra e consideração, por ter escrito que o seu trabalho era um lixo”. Paulo Pereira Cristóvão começou entretanto a ser julgado por burla qualificada, branqueamento de capitais, entre outros crimes.

João Araújo mostra-se admirado por alguns processos disciplinares “ficarem parados anos e anos”, como aquele que desencadeou contra a advogada de Pereira Cristóvão, enquanto outros avançam com grande celeridade. “O conselho de deontologia é fantástico”, ironiza, acrescentando que não tem tempo nem paciência para processos disciplinares.

Foi há um mês, à saída do Supremo Tribunal de Justiça, e depois ver rejeitado um pedido de libertação imediata do ex-primeiro-ministro, que o advogado reagiu de forma inusitada às perguntas da jornalista Tânia Laranjo, aconselhando-a a tomar banho. O presidente do conselho de deontologia de Lisboa da Ordem dos Advogados, Rui Santos, explica que o processo disciplinar permitirá ao advogado defender-se da queixa de que foi alvo. Depois de ouvido pelos seus pares, João Araújo poderá ver o processo arquivado ou ser acusado e incorrer numa pena que pode ir da mera advertência – a pena mais leve – até à suspensão, uma vez que o castigo mais grave, a expulsão da profissão, não se aplica a um caso deste género.

O conselho de deontologia de Lisboa tem ainda em mãos outro assunto em que João Araújo poderá ser igualmente visado, a divulgação pública de informações e comentários sobre os processos que tem em mãos sem autorização da Ordem dos Advogados. A suspeita de infracção às normas deontológicas estende-se, neste caso, a outros advogados.

Tânia Laranjo apresentou ainda duas outras queixas contra João Araújo por causa do episódio à porta do Supremo Tribunal de Justiça, uma cível e outra crime. Esta última terá desencadeado um inquérito por parte do Ministério Público.

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