Aqui vamos nós

Este ano faço 60 anos. Vou dividi-los como se fosse morrer em Julho em quatro períodos de 15 anos.

Este ano faço 60 anos. Vou dividi-los como se fosse morrer em Julho em quatro períodos de 15 anos. Sem esta histeria melodramática jamais seria forçado a chegar a conclusões.

Nos primeiros 15 anos não se sabe no que se acredita. Tem-se pouca informação. Mas sabe-se, saudavelmente (e dura até à velhice), o que não se quer, que é muita coisa, para não dizer tudo o que existe.

Aos 30 anos, depois de muita informação, sabemos o que queremos e mais: tudo fazemos para que os outros queiram a mesma coisa que nós. Descobrimos a grande verdade e temos pena do resto do mundo, que continua tragicamente iludido.

Aos 45 anos já não nos esforçamos tanto para nos informarmos e desistimos de converter os que não pensam como nós. Aceitamos que não há maneira de pensarmos todos a mesma coisa. Mas dói-nos que assim seja.

Aos 60 anos damos graças a Deus (ou ao suplente secular) por haver tantas maneiras de pensar (e acreditar) diferentes da nossa. O que mais nos comove é a generosidade da dúvida ou a multiplicidade de certezas duvidosas: o que vem dar ao mesmo.

Aos 75 anos, se calhar, percebe-se que a diversidade é apenas um regime de escolhas em que só uma resposta é certa. É verdade, afinal, que quanto mais envelhecemos, mais nos fechamos aos outros, ao exterior e até a nós mesmos.

Aos 90 anos (que correspondem a seis ciclos de 15 anos) tudo isto parecerá uma brincadeira de quem cometeu o erro de falar decisivamente quando estava a dois terços do filme. Ou do fim. Seja.

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