Aprender com a experiência

Espero que os resultados do PISA possam ensinar duas coisas ao atual ministro da Educação. A primeira: deve educar-se para os alunos reais, e não para os preconceitos dos pais. A segunda: é preciso aprender com os erros, e corrigir.

Em Portugal há muita gente que acredita que se deve educar para os pais, e não para os filhos. Se o pai fez exame da quarta classe, deve fazer-se exame da quarta classe; se a mãe não usava calculadora, o filho não deve usar calculadora; se a avó decorava o dia todo, a neta deve decorar o dia todo. Durante algum tempo, as pessoas que assim pensam dominaram o debate público. Com este Governo, chegaram ao poder. E agora está na altura de ver como se têm saído.

Uma bitola importante para estas coisas é a avaliação internacional PISA — sigla em inglês do Programa para a Avaliação Internacional de Estudantes — que de três em três anos avalia o desempenho de alunos de vários países em Matemática, Ciências e Leitura. Apesar de todas as dificuldades inerentes aos estudos comparativos, o PISA está bem desenhado e tem reforçado a sua credibilidade de edição para edição. Quando saem os resultados é como se os países tivessem ido à escola, e de certa forma é verdade: no fundo, são os governos ou as políticas educativas que passam ou chumbam nestes testes. Não por acaso, o novo resultado do PISA, que foi divulgado ontem, foi notícia em jornais de todo o mundo.

Portugal não foi exceção. Até ao último PISA, o país vinha melhorando nas três áreas em análise, e de forma constante. Há menos de dez anos, Portugal costumava ficar no 25.º ou 26.º lugar da tabela de países. Em poucos anos, os nossos estudantes saltaram cerca de dez lugares na tabela; há três anos tiveram os seus melhores resultados. E agora? A subida interrompeu-se. Os resultados portugueses estagnaram ou perderam até alguns lugares na Leitura e nas Ciências.

Nada de grave, se soubermos olhar para os resultados com humildade e corrigir onde tivermos falhado. E é aqui que nos devemos preocupar. A atual política educativa, muito baseada nos preconceitos do ministro Nuno Crato contra o chamado “eduquês” e na cruzada do Governo em desfavor do ensino público, tem sido dogmática e teimosa. Crato e o Governo têm sido até agora impermeáveis a críticas.

Na verdade, enquanto Crato e os seus acólitos verberavam um suposto “facilitismo” do ensino em Portugal, os nossos resultados PISA melhoravam. Enquanto lamentavam a “terra queimada” na educação, Portugal passava a ser um país que não só aumentava o número de “melhores alunos” como diminuía a distância entre os alunos com melhores e piores resultados. E agora, desde que os inimigos do “eduquês” pegaram nas rédeas da educação, a tendência estagnou-se ou inverteu.

Ainda mais expressivo foi o resultado num país que o Governo costuma citar como seu exemplo, por ter iniciado políticas de privatização das escolas: a Suécia. Pois bem, entre os países ricos, a Suécia foi aquele que deu um maior tombo na classificação. O resultado foi recebido com consternação naquele país, e até um ministro liberal teve de conceder que “devíamos ter nacionalizado as escolas quando estivemos no poder”.

Espero que os resultados do PISA possam ensinar duas coisas ao atual ministro da Educação. A primeira: deve educar-se para os alunos reais, e não para os preconceitos dos pais. A segunda: é preciso aprender com os erros, e corrigir.
 
 

Sugerir correcção
Comentar