Apostar mais na leitura, escrita e Matemática no ensino básico reduz abandono escolar

O especialista em Educação Peter Mathews vai estar nesta quarta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com uma conferência que pretende responder à pergunta: “Por que deixam as crianças de gostar da escola?”

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Com o declínio da natalidade, provavelmente haverá mais escolas passíveis de serem encerradas Enric Vives-Rubio

O consultor internacional de Educação Peter Mathews, que tem trabalhado para a OCDE e é professor na Universidade de Londres, vai estar nesta quarta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a defender que o combate ao abandono escolar deve concentrar-se nos primeiros anos de escolaridade e que as prioridades devem passar por tornar as crianças leitoras competentes, com capacidades ao nível da escrita e domínio de noções básicas de Matemática.

Sem isto, defende, os alunos não entendem o que estão a estudar, o que os pode levar, mais tarde, a desistirem. A conferência deste especialista pretende responder à pergunta “Por que deixam as crianças de gostar da escola?” e está incluída num programa, organizado pela EPIS – Escolas de Futuro, com mais oradores.

“A conferência é sobre o que pode ser feito com crianças mais novas para prevenir o abandono escolar quando são mais velhas. Acreditamos, em Inglaterra, que podemos fazer muito nos primeiros anos e que isso torna as crianças mais receptivas à educação quando se tornam mais velhas”, diz Peter Mathews.

O especialista, que tem vindo a fazer pesquisas sobre a aprendizagem no ensino básico, defende que “é muito importante que cada criança seja um leitor competente”, que escreva de forma competente e que tenha noções de Matemática. Peter Mathews entende que, só dominando a leitura, sabendo ler e compreendendo o que se lê, é que as crianças conseguem perceber outras matérias e achá-las interessantes. Um investimento na educação nos primeiros anos de escolaridade “reduz o número de problemas relacionados com o abandono escolar, assiduidade e comportamento, quando as crianças se tornam mais velhas”.

A conclusão parece óbvia, mas nem sempre é posta em prática. “Há professores que pensam que ensinar é só ensinar as suas disciplinas, mas é sobretudo ensinar os seus alunos. E a forma de levar os alunos a querer aprender mais é ensiná-los de uma maneira muito activa. Para que se tornem também eles activos na sua aprendizagem”, diz. E exemplifica: “As crianças não aprendem a escrever por lhes ser dito como devem escrever, elas aprendem quando têm coisas interessantes sobre que escrever, quando são ajudadas. Se lhes disserem, eles esquecem. Se fizerem, eles percebem e lembram-se.”

Outra preocupação deve passar por “canalizar mais esforços e recursos para as crianças de famílias desfavorecidas”, porque “todas as crianças podem ter sucesso, independentemente” do contexto socioeconómico. Peter Mathews é contra as retenções, porque fazem com que os alunos percam confiança e auto-estima. Defende antes que cada caso seja abordado individualmente, respondendo às necessidades de cada criança.

Peter Mathews liderou em 2008 o relatório Políticas de valorização do primeiro ciclo do ensino básico em Portugal, entregue ao Ministério da Educação. Em causa estava, entre outros aspectos, o encerramento de escolas pequenas e a inclusão destas em agrupamentos, medida que o especialista considera positiva.

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