Amianto preocupa trabalhadores da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa

Sindicato fala em número anormal de mortes por cancro e exige rastreio aos funcionários de edifício em Lisboa.

Foto
Preocupações centram-se no edifício do Departamento de Jogos Catarina Oliveria Alves

Funcionários da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa estão preocupados com a eventual exposição ao amianto a que tenham estado sujeitos num dos seus edifícios, que será encerrado em Setembro. O Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas considera anormal o número de mortes por cancro nos últimos tempos entre trabalhadores do edifício do Departamento de Jogos, em Lisboa.

O delegado sindical João Mendonça fala em três casos nos últimos dois meses, mas acrescenta que há 14 ou 15 pessoas que já foram tratadas, sem precisar quando, nem a que tipo de doença oncológica. A exposição ao amianto causa um tipo muito particular e raro de cancro – o mesotelioma – que afecta o pulmão. Entre 2007 e 2012, morreram 218 pessoas em Portugal vítimas da doença.

O que inquieta os trabalhadores é o contacto com o amianto que poderá ter ocorrido numa sala em particular, onde se fazia a digitalização de apostas, processo extinto em 2001. Segundo a Santa Casa, foi identificado amianto em materiais de construção nesta sala, no âmbito de um levantamento que tem vindo a ser feito sobre a presença daquele produto cancerígeno em todos os edifícios da instituição. Num comunicado, a Santa Casa não esclarece quando foi identificado o amianto, informando que em 2004 foram feitas análises à qualidade do ar em salas do 2º e 3º piso do edifício. Os resultados indicaram valores de fibras de amianto abaixo dos limites legais.

“Ainda assim e desde então, essa sala encontra-se encerrada e inacessível, não sendo utilizada para qualquer actividade”, informa a Santa Casa, no comunicado.

Como os efeitos do amianto revelam-se muitos anos depois do contacto com a substância, os trabalhadores temem que a exposição no passado possa estar só agora a reflectir-se. O sindicato não tem, porém, dados que permitam concluir qualquer relação de causa e efeito entre os casos de cancro agora identificados e o amianto.

A Santa Casa de Misercórdia de Lisboa lamenta as mortes recentes, mas diz desconhecer que tenham estado relacionadas com o cancro e refere que não há registos de doenças profissionais entre os seus trabalhadores. “Não é possível, portanto, retirar qualquer relação entre as mortes ocorridas e a eventual exposição ao amianto”. 

“Queremos um rastreio aos trabalhadores e uma inspecção global ao edifício. Queremos saber que tipo de risco corremos”, defende, no entanto, o delegado sindical João Mendonça.

O prédio vai ser desocupado em Setembro, com o Departamento de Jogos a mudar-se para outro edifício, na Avenida da Liberdade, devido a “uma opção estratégica de negócio”, segundo a Santa Casa.

O amianto é mais problemático nos casos de exposição profissional – sobretudo em funcionários de fábricas que processavam ou utilizavam o produto, hoje proibido, ou em trabalhadores da construção civil. Mas a questão do amianto que ainda permanece nos edifícios tem dominado as preocupações em Portugal. Em muitas situações, como a das coberturas de fibrocimento, o amianto está imobilizado, causando mais problemas se for retirado sem necessidade e sem protecções adequadas. Noutras, como o amianto friável que recobre antigas tubulações e caldeiras, o risco é maior.

Sugerir correcção
Comentar