Alexandre Quintanilha dá a cara e conta a sua história em nome da esperança LGBT

Em entrevista para a nova web-série Já Melhorou, o deputado socialista Alexandre Quintanilha falou em Abril sobre o seu percurso de vida, a relação com o marido Richard Zimler e a vivência da homossexualidade em diferentes países e alturas. O vídeo saiu no sábado passado.

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Alexandre Quintanilha e o marido, Richard Zimler Fernando Veludo
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Alexandre Quintanilha Fernando Veludo
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Alexandre Quintanilha e o marido, Richard Zimler Fernando Veludo
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Alexandre Quintanilha e o marido, Richard Zimler Nelson Garrido
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Alexandre Quintanilha no Parlamento, como deputado socialista Daniel Rocha
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António Costa e Alexandre Quintanilha Fernando Veludo

No projecto digital Tudo Vai Melhorar, Organização Não-Governamental e plataforma portuguesa afiliada ao It Gets Better nos Estados Unidos, que incentiva a perseverança de jovens LGBT face ao bullying e preconceito homofóbico, Quintanilha surgiu como a primeira figura política homossexual a conversar sobre uma vida realizada. O professor universitário jubilado e actual deputado do PS descreve a sua história de vida, incluindo a infância, carreira académica e a relação que construiu com o escritor Richard Zimler, companheiro de longa data.

Na entrevista, inserida na web-serie Já Melhorou, começa por falar da juventude passada em Moçambique, cheia de vivas experiências e curiosidade. Nascido em 1945, pertenceu à geração do pós-guerra a quem era permitido acreditar num mundo melhor. “Não tinha medo de explorar o desconhecido”, afirma. Descreve-se como um romântico desde cedo, “atraído, como todos nós, por pessoas”.

Foi por volta dos 13 anos que começou a sentir uma “barreira diferente” nas relações que mantinha, reparando que a intimidade que lhe era permitida com raparigas se tornava quase impossível com rapazes, por recusa dos mesmos. “Tínhamos relações sexuais, mas enquanto que para mim era o que estava à espera, para eles não”, relembrou. Traz consigo até hoje a convicção de que a emoção por outro ser humano deve ser sempre explorada, seja com homens ou mulheres, uma opinião que lhe surgiu cedo na vida.

A vida levou-o aos caminhos da ciência, formando-se em Física em Joanesburgo e mais tarde especializando-se em Biologia. Após uma longa carreira de investigação e ensino tanto nos Estados Unidos como em Portugal, tornou-se deputado do PS pelo círculo eleitoral do Porto na XXIII Legislatura, liderando hoje a Comissão de Educação e Ciência no Parlamento.

A entrevista prosseguiu com as memórias dos tempos passados em São Francisco, no estado norte-americano da Califórnia. Foi aí que, em 1978, conheceu o marido, o escritor Richard Zimler. O momento era de libertação social e de aguerridas causas, ou não fosse a área da Baía de São Francisco historicamente conhecida pelos fortes movimentos de comunidades como a LGBT e a feminista.

A epidemia da SIDA nos anos 1980 afectou particularmente a cidade. Quintanilha não escondeu o que poderia ter acontecido, confessando que não fosse pela relação monogâmica que iniciou com Richard, “não estaria aqui hoje”. Acrescenta aliás que parte do motivo pelo qual o casal se mudou para Portugal foi o ambiente deprimente que surgiu em São Francisco, devido ao elevado número de afectados pela doença.

A forte base católica portuguesa poderia parecer à partida um impedimento à normal vivência de um casal gay em Portugal na década de 1990, mas o deputado não concorda. “É um país muito respeitador da liberdade das pessoas”, afirmou. A partir daí, a relação com Zimler continuou a fortalecer-se, até se tornarem um dos primeiros casais gay a casar em Portugal, após a aprovação do casamento homossexual em 2010. Mas a permanência não é obrigatória. Depois de 20 anos tanto em África como na América e Europa, "a ideia é ir os últimos 25 anos para a Nova Zelândia", numa verdadeira volta ao mundo em pares de décadas.

Sobre as relações, o deputado tem opinião assente. Afirma que a sua o ajudou a crescer e a perceber melhor quem é. "Uma relação muito forte é aquela em que começamos a sentir a pouco e pouco uma enorme satisfação com a realização do outro", sustenta.

A web-série semanal Já Melhorou incluirá oito episódios com entrevistas, sendo o depoimento de Quintanilha o segundo. O projecto está no entanto a enfrentar dificuldades para conseguir que outras figuras públicas e políticas contem as suas histórias. Diogo Vieira da Silva, presidente da Associação Tudo Vai Melhorar, confessa que apesar de a disponibilidade de Quintanilha para a entrevista ter sido total, a falta de voluntários mediáticos obrigou a uma alteração da estratégia da temporada. Procuraram assim figuras que fossem reconhecidas dentro da comunidade LGBT, mesmo que escapassem um pouco à esfera pública.

O jovem presidente espera, apesar de tudo, que Alexandre Quintanilha seja apenas um começo. Para a próxima temporada, na calha para ser exibida no final deste ano ou início do próximo, Diogo Vieira da Silva conta que outras figuras políticas se cheguem à frente quando convidadas. “Porque essas figuras têm uma responsabilidade, nem que seja mediática, de fazer com que jovens gays e lésbicas percebam que nada os impede de se realizarem quer pessoalmente quer profissionalmente, e que temos de deixar de viver com medo. É esta a intenção da web-série. Demonstrar de forma positiva que é possível sermos nós mesmos”, explica. Texto editado por Álvaro Vieira

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