Ajudar na ansiedade de separação

A ansiedade do seu filho não é um problema só dele

Os comportamentos de ansiedade de separação de uma criança manifestam insegurança e desconhecimento de como lidar com as dificuldades com que se depara. Geram sentimentos de culpa, vergonha e incompetência. Por isso, trate o seu filho com carinho e respeite a sua dificuldade. Acredite genuinamente na capacidade dele em encontrar estratégias, demonstre-o e confie.

Se você mesmo teve essas dificuldades, pense no que é que o poderia ter ajudado. Procure não se assustar ou irritar. O seu filho precisa da sua capacidade de pensar para além do medo e da frustração. Faça uso da sua criatividade para desdramatizar a situação.

Por exemplo, se estamos diante de um filho pequeno que não quer ir para a escola, antes de mais ouça-o e empatize com as suas razões. Não desvalorize nem minta sobre a situação. Fale com ele com ânimo em relação aos benefícios da escola e interaja com os meninos e as educadoras da sala. Está a dar exemplos de como ele se pode relacionar com eles. Pode incentivá-lo a descobrir o universo da sala ou levar um jogo de casa que sirva de ponte para a relação com os outros meninos. O objetivo é estimular o sentimento de confiança dele. Reforce o quanto gosta dele e acredita que vai conseguir superar aqueles medos. Só tem de ter calma e ir ao seu ritmo. O nervosismo acaba por passar e há coisas fascinantes para aprender e fazer na escola… e com amigos é ainda melhor!

Quando o for buscar, tenha curiosidade de ver o que se esteve a fazer e deixe-se deslumbrar pelas realizações do seu filho. Mostre claramente o seu orgulho e apreço… e reforce como ele foi capaz de vencer o nervosismo e divertir-se!

Em casa dedique tempo a brincar com o seu filho. Para além de ele perceber consigo como é gostável e como é divertido brincar com ele, as crianças projetam muito do seu dia nas brincadeiras e transmitem aí muita da sua emoção e modo de ver a realidade. Entre na brincadeira do seu filho e crie estratégias para resolver as dificuldades que os “bonecos” apresentam.

Se o seu filho for mais crescido, o enfoque necessariamente é na linguagem, menos na brincadeira. Mesmo que o vosso filho não queira falar - ele ouve tudo o que vocês dizem e regista-o. Aborde sem grande alarido ou crítica as suas dificuldades. O contrário só vai agravar o seu sentimento de culpa e de incompetência. Procure perceber com ele o que o está a deixar nervoso e transmita-lhe a sua confiança genuína nas suas capacidades de dar a volta. Recorde-o que ele está a crescer/amadurecer e que o nervosismo passa à medida que se vai sentindo mais à-vontade com os colegas e, sobretudo, mais confiante na sua capacidade de ser interessante para, e com, os outros. Pode mesmo dar exemplos seus ou relembrá-lo de situações em que ele foi bem sucedido. Implique-o na reflexão: o que é que ele poderia fazer para se sentir mais confiante? Tudo depende da nossa capacidade de nos tornamos agentes de pleno direito da nossa vida.

Por outro lado, rejeite a tentação de pensar que a ansiedade do seu filho é um problema só dele. Reflita sobre a sua própria personalidade e estilo relacional. Naturalmente influenciam o modo como transmite informação sobre como lidar com os desafios. E reflita se se sente seguro/competente ou inseguro/incapaz para ajudar o seu filho a ultrapassar tais dificuldades.

Se não se sente confiante na sua abordagem e sente a sua criatividade bloqueada, não se culpabilize nem feche os olhos a essa realidade. Estimule o seu filho a falar com alguém na rede social da família que tenha com ele uma relação de confiança e que sinta que lhe pode transmitir outras perspetivas (um amigo seu, um amigo do seu filho ou professor). Noutros casos, falar com o psicólogo pode ser uma etapa importante, ajudando a criança a pensar sobre esta questão, no modo como se enquadra no estilo relacional e na dinâmica emocional familiar e, sobretudo, a integrar outro olhar sobre si mesma e sobre o mundo.

Psicoterapeuta

Catarina.nasc.rodrigues@gmail.com

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