“Ainda só temos dois professores”

Há alunos que tiveram furos à primeira hora neste arranque do ano lectivo. E jovens que contam que estão habituados a ter, todos os anos, professores que só ficam duas semanas e depois são substituídos. Mas alguns pais mostram-se tranquilos.

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O arranque do ano lectivo na escola Rainha D. Leonor, em Lisboa Daniel Rocha
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Perto das 9h desta segunda-feira, já se juntavam vários grupos à porta da Escola Secundária Rainha Dona Leonor, em Lisboa. No regresso às aulas, conversavam sobre as férias, riam, fumavam. No arranque deste ano lectivo, num dia que começou com sol e chuva, alguns dos adolescentes, que estavam ao pé do portão, tinham saído mais cedo, porque o dia também foi de apresentações. Mas outros tinham estado à espera do professor e ninguém apareceu.

Ana Catarina, 17 anos, aluna do 12.º de Economia, diz que, para já, em cinco disciplinas, só tem dois professores: “Temos o de Matemática e a de Aplicações Informáticas. Faltam três, o de Português, Sociologia e Educação Física. Nos outros anos não me lembro de não ter tido professores, foi só este”, conta. Desconhece as razões em detalhe e garante que a professora que lhes transmitiu a informação também não lhes disse quando chegariam os docentes.

Igor, estudante de 16 anos do curso profissional de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, está de óculos escuros e a ouvir música no telemóvel, com headphones, enquanto espera por uma amiga. Viu o horário na Internet, “quando foi colocado, no dia 11 de Setembro”, mas este ano não tinha o nome dos professores: “Antigamente os professores apareciam por baixo [no horário], agora não aparecem, não sei quem são. Mas, se este ano, for como no ano passado, não vou ter as aulas todas. No ano passado, houve professores que deram duas semanas e foram-se embora. Estivemos mais duas semanas à espera de professor, veio outro, foi-se embora e depois veio outra vez outro. É o normal”, diz, encolhendo os ombros.

Por volta das 8h15, já havia alguma agitação à entrada da escola. Carros, o barulho de fundo das conversas dos jovens, cumprimentos, despedidas aos pais. Maria Manuela Jorge, 71 anos, mete um pão na mochila da neta, dá-lhe um beijo e deseja-lhe “felicidades”. A miúda vai entrar no 7.º ano, é a primeira vez neste estabelecimento de ensino. “Vim ver a entrada dela nesta escola”, diz a avó que na sexta-feira foi à reunião e ficou descansada quanto à colocação de professores. “Acho que tem os professores todos. Pelo que foi dito, fiquei com a impressão de que a coisa está equilibrada. Se falhar, é um ou outro [docente]. Acho que não vai haver furos”, diz. Mas houve, embora a maior parte dos alunos desconhecesse a razão pela qual não apareceu o professor.

Pais confiantes
Inês, 16 anos, está com uma amiga com o mesmo nome, de 17 anos. São de Economia e tiveram “furo” à primeira hora da manhã, 8h15. “Não houve aula de Português. Não sei porquê. Não disseram… Estivemos à espera do professor, mas ninguém apareceu”, conta uma das jovens.

Passado pouco tempo, Luís, aluno de 16 anos do 9.º ano, também atravessa, com amigos, o portão em direcção à rua. Furo a Educação Visual. Não sabe porquê, desconhece se tem ou não professor: “O horário não tinha o nome dos professores, não sei se tenho os professores todos ou não”, explica. O grupo está numa galhofa. O que vão fazer agora sem aula? Eles riem-se: “Nada!”

Porém, apesar de alguns “furos”, os pais estão tranquilos. “Aqui, nesta escola, não tenho qualquer reparo a fazer. Há escolas mais penalizadas, acho que esta é menos penalizada, deve ter um corpo docente mais fixo”, acredita Susana Martinho, assistente social de 47 anos, que tem um filho no 10.º ano.

Lurdes Coelho, assistente operacional na área da saúde, 48 anos, conta que o filho, no 7.º ano, ainda não tem professor a uma disciplina, mas mostra-se compreensiva com alguma “desorganização” da parte da tutela no “início do ano”. “Há muita coisa no país que já devia ter sido feita há muito tempo, não são só as colocações dos professores”, defende.

À porta da escola - cuja direcção o PÚBLICO contactou, mas que fez saber que não teria, durante este dia, disponibilidade para falar -, a assistente operacional Maria Almeida garante que, no que toca a funcionários, “está tudo normal” neste estabelecimento.

Num outro agrupamento de escolas de Lisboa, o D. Filipe de Lencastre, Manuel Morais, assistente operacional de 56 anos, frisa que trabalha há duas décadas e já conheceu arranques de anos lectivos mais “calmos”. Mas desvaloriza: “Já houve anos em que foi mais calmo, mas há sempre professores que não são colocados, que têm de estar à espera...”.

Em Braga há escola nova mas também faltam professores
A lama ameaça inundar o campo desportivo novinho em folha. Chove copiosamente e, dentro de uma retroescavadora, alguém remexe o terreno para evitar problemas. A escola EB 2,3 André Soares, em Braga, entra no novo ano lectivo com instalações totalmente renovadas, mas ainda à espera de alguns professores para completar o seu quadro de docentes. Faltam os de Educação Especial, que não foram ainda colocados, apesar de pedidos no Verão, bem como dois horários pequenos, que só agora vão ser requisitados à tutela.

“Só temos a situação de Educação Especial por resolver”, conta a directora, Graça Moura. Os restantes horários solicitados no Verão foram todos ocupados. Nos próximos dias, serão pedidos outros dois docentes, de Alemão e Português. “São horários pequenos”, explica. São as únicas situações por resolver.

Neste agrupamento de escolas bracarense, as aulas começaram esta segunda-feira. Com instalações a estrear, depois das obras de renovação do último ano. No exterior, ainda são ultimados pormenores, mas nas áreas interiores tudo está pronto. “Estamos a começar a testar as novas instalações, mas parece-nos que está tudo pronto para termos um ano lectivo bem-sucedido”, avalia. Faltam apenas chegar as novas mesas e cadeiras, com entrega prevista para o final do mês. “Até lá estamos a usar o equipamento que tínhamos”, conta.

Esta é a única escola de Braga que começa o ano lectivo em instalações novas, mas partilha com as restantes contactadas pelo PÚBLICO a escassez de problemas relacionados com a colocação de docentes. “Já temos os professores todos”, diz Ricardo, um aluno que vai repetir o 11º ano pela segunda vez, depois de uma primeira experiência “que não correu bem”. É dos poucos que aguardam o toque de entrada à porta da Escola Secundária Alberto Sampaio.

Em dia de início de aulas e chuva intensa, há mais carros do que o habitual junto a esta escola bracarense. Os familiares trazem os alunos até à porta, mas estes rapidamente correm para o interior das instalações para se abrigarem. A informação que Ricardo tem cá fora é confirmada pelo director, João Andrade. “Não tivemos problemas com o concurso de mobilidade individual”, conta. A escola está apenas a ultimar as colocações de substituições de docentes com baixas por doença, mas tem todos os horários estão atribuídos. “Está tudo preparado para um ano tranquilo”, garante o director.

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