Agressões a profissionais de saúde quase duplicaram em 2011

Enfermeiros continuam a ser as principais vítimas de agressão. Mas ao contrário do que se verificou no passado, a agressão partiu do sexo feminino na maioria dos casos.

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É na região de Lisboa que há mais queixas, por oposição ao Alentejo, onde há menos. Fábio Teixeira

No ano passado, foram reportados 154 episódios de violência contra profissionais de saúde nos hospitais e centros de saúde portugueses. Este número é quase o dobro do que foi registado em 2010, segundo um relatório da Direcção-geral de Saúde (DGS), divulgado nesta quarta-feira.

O relatório do Observatório Nacional da Violência contra os Profissionais de Saúde, com data de Junho deste ano, baseia-se nos dados registados online sobre episódios de violência contra profissionais de saúde no local de trabalho, em 2011. No total, foram comunicados à DGS 154 casos, mais 95% do que em 2010, quando houve 79 episódios.

Os enfermeiros continuam a ser as principais vítimas de agressão: segundo o documento, 66,9% dos casos de violência são contra estes profissionais. Em 16,2% dos casos, as vítimas eram médicos; em 10,6% dos casos eram assistentes técnicos; 4,5% dos episódios ocorreram com assistentes operacionais e os outros técnicos de saúde foram vítimas em 1,9% dos casos.

De acordo com o documento, a discriminação ou ameaça e a injúria são os principais tipos de violência exercida contra estes profissionais. Foram comunicados 73 casos de discriminação ou ameaça, 71 de injúria, 59 casos de pressão moral, 57 de calúnia, 44 de difamação, 39 de violência física e dois de assédio sexual.

Mulheres são principal vítima e agressor
Em 114 dos 154 casos reportados, as vítimas eram mulheres e na sua maioria tinham entre 30 a 39 anos, revela o relatório. E ao contrário da tendência registada nos quatro anos anteriores, em 2011 foram as mulheres as principais agressoras, representando 56% dos casos. Em 2010, a quantidade de agressores do sexo feminino rondava os 30%.

“De um modo global, quando se considera a idade do agressor regista-se um maior número de registos de violência contra profissionais de saúde no local de trabalho, em 2011, no grupo etário dos 30-39 anos”, lê-se no documento.

Fevereiro e Agosto são os meses com mais episódios registados – 35 e 17, respectivamente. O documento revela ainda que em 2011, pela primeira vez, houve registo de episódios de violência contra profissionais de saúde no local de trabalho na Região Autónoma dos Açores.

Mas é na região de Lisboa e Vale do Tejo que há mais queixas, por oposição à região do Alentejo, onde há menos. Os dados do documento indicam que 38,3% dos casos ocorreram na zona da capital, seguida pela região Centro (26%), Norte (24%), Algarve (9,7%), Açores (1,3%) e Alentejo (0,6%).

Maioria dos casos em hospitais
“Relativamente à distribuição das notificações de acordo com a instituição do Sistema Nacional da Saúde (…), verifica-se que, para ambos os sexos, a maioria das ocorrências foram registadas em hospitais (67%-70%)”, lê-se no relatório. Esta tendência tem-se mantido desde 2007, “possivelmente por neles [nos hospitais] existirem maior número de profissionais de saúde e por se encontrarem nas urgências hospitalares maior percentagem de situação agudas”, explica o documento.

“Nos hospitais, os serviços de internamento de psiquiatria e urgência correspondem aos locais onde ocorre o maior número de situações de violência, à semelhança do que acontece noutros países”, acrescenta.

Segundo o relatório da DGS, a maioria das vítimas ficou “muito insatisfeita” com a forma como a instituição geriu os episódios de violência. Em 50% dos casos, os profissionais consideram mesmo que os casos podiam ter sido evitados. De igual forma, metade do número de vítimas envolvidas nestes episódios reconhecem que “os actos de violência contra os profissionais de saúde na instituição em causa são habituais”. Apenas 31 (20%) dos casos notificados foram participados à autoridade, gerando autos.

Quanto à redução da adesão ao registo online, o documento refere que “o baixo registo de ocorrências (…) pode estar relacionado com a noção que os profissionais têm de que a violência é algo que faz parte da sua profissão”.

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