Aeronave que caiu em Ferreira do Alentejo tinha mais de 40 anos

Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves só terá primeiro relatório pronto dentro de dois a três meses.

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Ainda não foi encontrada a cauda da aeronave que se despenhou neste domingo em Ferreira do Alentejo, provocando um morto e sete feridos entre os pára-quedistas que seguiam a bordo. As autoridades admitem que a cauda do aparelho se terá separado da restante estrutura a uma altitude 7200 pés (2195 metros), quando a aeronave se encontrava em plena fase de ascensão para atingir os 14.000 pés (4267 metros) programados para o lançamento dos sete pára-quedistas, o que precipitou a sua queda.

O director do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA), Álvaro Neves, adiantou ao PÚBLICO que “só será possível estabelecer, em definitivo, a área de dispersão dos fragmentos da aeronave” — um modelo Pilatus PC6, com capacidade para dez pessoas — quando for descoberta a cauda do aparelho. Entre o primeiro destroço descoberto e o último recuperado até ao início da tarde desta segunda-feira “medeia uma distância de cerca de 1,5 quilómetros”, salienta Álvaro Neves, frisando que um cálculo preliminar já realizado admite que a área por onde se espalharam os destroços possa atingir um diâmetro com três quilómetros.

Para já, prossegue o director do GPIAA, “tudo aponta para a desintegração no ar da estrutura do aparelho, com a cauda a separar-se da restante estrutura”. Mas Álvaro Neves ressalva que esta é apenas uma primeira interpretação, que requer ainda confirmação.

O aparelho sinistrado tinha uma história com “mais de 40 anos” associada à passagem por vários proprietários, desconhecendo-se ainda qual o tipo e a frequência de verificações a que toda a sua estrutura foi sujeita ao longo deste período.

“O único caso que conhecemos em tudo semelhante ao acidente que ocorreu em Ferreira do Alentejo aconteceu em 2006”, envolvendo igualmente o modelo Pilatus PC6, acentua o director do GPIAA, confirmando que o aparelho com matrícula alemã “veio de Espanha na passada semana, onde foi sujeito a uma verificação na turbina e a alguns dos seus componentes”. Desconhece-se até ao momento se a revisão ao aparelho foi extensiva a mais elementos.

O aparelho sinistrado pertence a um operador privado alemão que tem um contrato de prestação de serviços com a empresa Aero Vip, a concessionária das linhas aéreas regionais que ligam Bragança a Portimão e Porto Santo ao Funchal. A Aero Vip Pertence ao grupo 7Air, que detém igualmente a empresa de pára-quedismo SkyFall, ao serviço da qual a aeronave acidentada operava neste domingo.

Relatório tardio

A falta de recursos técnicos e humanos no GPIAA vai obrigar a apresentar o relatório preliminar sobre as causas do acidente só dentro de dois a três meses, admite Álvaro Neves, que reconhece que o gabinete que dirige “não tem condições para fazer relatórios mais céleres”. Se as conclusões finais surgirem apenas dentro de dois ou três anos, “os seus resultados deixam de produzir qualquer efeito prático”, antecipa o director do GPIAA, que hoje se manteve ao longo de todo o dia no local do acidente para se inteirar dos primeiros resultados da investigação às causas que motivaram a queda do aparelho.

Entretanto, uma fonte da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo adiantou ao PÚBLICO que já tiveram alta as duas mulheres pára-quedistas, de 37 e 48 anos, que ficaram com ferimentos ligeiros na sequência do acidente. Os dois feridos graves foram transportados de madrugada num helicóptero do Instituto Nacional de Emergência Médica para o Hospital de São José, em Lisboa, mas a sua situação clínica é estável.

Com base num levantamento feito pela agência Lusa ao número de acidentes registados nos últimos anos em Portugal com aeronaves ligeiras, ultraleves e parapentes, o deste domingo é o 12.º na região do Alentejo entre 2009 e 2016.

O aeródromo de Figueira de Cavaleiros, de onde descolou o avião sinistrado, foi inaugurado em 2011 com o apoio do Turismo de Portugal. A pista de asfalto tem 650 metros de comprimento por 30 metros de largura e está certificada pelo Instituto Nacional de Aviação Civil.

Através de comunicado, a Skyfall e o Grupo 7Air adiantaram entretanto ao PÚBLICO que, dos sete pára-quedistas que viajavam na aeronave acidentada, dois sofreram “ferimentos ligeiros e já se encontram em suas casas e os restantes dois estão em estado grave”: um politraumatizado, que “não tem lesões permanentes e que se encontra estabilizado”, e um segundo que teve de ser operado ao final do dia de hoje no Hospital de São José a uma lesão na cabeça. “O seu estado inspira cuidados”, lê-se na nota divulgada.

A única vítima mortal, o piloto do aparelho, vai ser autopsiada nesta terça-feira e o corpo seguirá depois para a Bélgica, o seu país de origem, adiantam ambas as empresas, que “enaltecem o profissionalismo e altruísmo do piloto”. Salientam que a sua acção terá contribuído, “de acordo com testemunhos recolhidos”, para que “não se registassem mais fatalidades” e lamentam “profundamente” o seu desaparecimento.

A Skyfall e o Grupo 7Air asseguram ainda que estão a colaborar com as autoridades e com o fabricante da aeronave tendo em vista o “apuramento de todos os factos”.

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