Advogado lamenta que investigação no Meco tenha estado parada um mês

Equipa mista, da Polícia Judiciária e da Polícia Marítima, está a dar apoio ao Ministério Público

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Só na próxima semana o advogado vai pedir informações ao Ministério Público sobre a investigação Miguel Manso

Vítor Parente Ribeiro, advogado das famílias dos jovens que morreram no Meco, na madrugada de 15 de Dezembro, diz que “a análise de vários elementos”, entre os quais alguns testemunhos e documentos, o levam a ter a convicção de que estavam mais pessoas na praia, na noite da tragédia, do que as sete que têm sido noticiadas — “Seriam entre dez e 12 pessoas.” O advogado acredita ainda que o que aconteceu no areal terá sido uma praxe. “Uma praxe nos moldes” relatados pela TVI na noite de quarta-feira. Mas sublinha: “Tudo terá de ser investigado.”

Contactado pelo PÚBLICO, Parente Ribeiro estranha que tenha sido preciso tanto tempo para a investigação por parte do Ministério Público arrancar: “É estranho que o processo tenha estado parado um mês e só depois de os pais falarem para a comunicação social é que algo aconteceu. Houve um grande desinteresse pela investigação numa fase em que teria sido fundamental a recolha de provas.”

Parente Ribeiro explica que tem estado a preparar “a constituição como assistentes no processo dos pais” e que a entregará na segunda-feira no tribunal. A constituição como assistente permite à vítima ou queixoso actuar como colaborador do Ministério Público e intervir no inquérito e na instrução.

Só depois disso o advogado irá solicitar ao Ministério Público elementos — “E eventualmente uma reunião, que não sei se será concedida” — que permitam perceber que diligências já foram tomadas. E aí se saberá, por exemplo, se algum elemento da polícia — Marítima ou outra — esteve na casa alugada pelos estudantes, em Aiana de Cima (casa de onde partiram, no sábado, 14 de Dezembro, à noite, em direcção ao Meco, a pé e trajados). O advogado diz que já houve pais a serem ouvidos, mas, tanto quanto sabe, alunos não. “O processo está em segredo de justiça”, lembra.

Foi a 21 de Janeiro que a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que o inquérito tinha sido avocado ao procurador da República coordenador do círculo de Almada e que já não estava nas mãos do Ministério Público de Sesimbra, que não chegou a ouvir o sobrevivente.

Nesta quinta-feira a PGR acrescentou que o Ministério Público está a ser “coadjuvado por uma equipa mista, constituída por elementos da Polícia Judiciária e da Polícia Marítima”.

A Lusa especifica que foram quatro os familiares dos estudantes que falaram à Polícia Judiciária de Setúbal. Citando fonte ligada ao processo acrescenta que a Judiciária poderá querer também os depoimentos dos elementos da Polícia Marítima, que tiveram o primeiro contacto com o aluno sobrevivente, assim como com residentes da zona onde os estudantes da Universidade Lusófona alugaram uma casa. O sobrevivente deverá também ser ouvido em breve.

Parente Ribeiro está convicto que a tragédia teve origem numa praxe. E remete para a reportagem da TVI desta quarta-feira, em que se faz uma reconstituição de um ritual, que terá sido feito noutras ocasiões, segundo a estação de televisão. Nesse ritual, os praxados fazem prova para continuarem a ser os representantes do seu curso no Conselho de Praxes da Lusófona.

Hora do Diabo
A TVI diz que várias vezes os alunos chegaram a ir para junto ao mar, sempre numa noite de lua cheia, como a da tragédia, para um ritual inspirado na Hora do Diabo de Fernando Pessoa, que passaria por ter o dux a questionar os colegas, de olhos vendados.

A estação de televisão descreveu ainda o teor de algumas listas feitas por alunos que indicam que mais pessoas poderão ter participado no fim-de-semana de 14-15 de Dezembro, organizado pelos elementos do Conselho Oficial da Praxe Académica da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa, do qual faziam parte as vítimas.

Segundo a TVI, Carina Sanchez, uma das jovens arrastadas pelo mar, terá sido incumbida de organizar a logística do fim-de-semana. Numa “lista de materiais” que seriam necessários a aluna escreveu, entre outros, “talheres”. E à frente da palavra “talheres” acrescentou: “Cada um traz de casa (trazer mais 5 a contar com os excelentíssimos).”

Cada aluno, incluindo o dux, João Gouveia, que sobreviveu, tinha uma alcunha. Mas numa lista que também estava nos pertences dos jovens a TVI encontrou mais nomes de código. Nomes que não os das seis vítimas, nem do sobrevivente: “Foca”, “Songoku” e “Mostar”.

A TVI relatou ainda que no dia 12 de Dezembro, quinta-feira, antes da ida para Aiana de Cima, Carina foi às compras e gastou mais de 80 euros. E que foi comprada carne para 12 pessoas.
 
 
 
 
 

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