Advogado de Sócrates garante que motorista nunca levou dinheiro a Paris

O advogado João Araújo apresenta o recurso da prisão preventiva do ex-primeiro-ministro esta sexta-feira. O motorista João Perna foi novamente ouvido pelo Ministério Público e o seu advogado diz que colaborou.

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O advogado de José Sócrates, João Araújo, disse esta quinta-feira, em Évora, que o motorista do ex-primeiro-ministro, João Perna, "nunca foi a Paris" nem "levou malas de dinheiro" para a capital francesa.

"Irritou-me profundamente o espectáculo, o folclore, em torno da audição do senhor João Perna" e "as aldrabices, as mentiras, que foram produzidas, presumo que sopradas pela investigação", afirmou o advogado, à saída do Estabelecimento Prisional de Évora, onde reuniu com o seu constituinte, em prisão preventiva.

Segundo João Araújo, o motorista do antigo primeiro-ministro, João Perna, "nunca foi a Paris, nunca levou malas de dinheiro para Paris e o carro do senhor engenheiro José Sócrates nunca passou de Espanha".

As declarações de João Araújo foram proferidas no dia em que o motorista João Perna foi interrogado no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), em Lisboa, sobre o seu papel no alegado transporte de malas com dinheiro entre Lisboa e Paris. Preso preventivamente no âmbito da investigação Operação Marquês, João Perna foi ouvido por pelo menos um procurador, Rosário Teixeira, em interrogatório complementar, uma vez que já tinha sido interrogado quando foi detido, no mês passado, pelo juiz Carlos Alexandre. Mas dessa vez tinha-se recusado a prestar esclarecimentos.

Já esta quinta-feira o motorista respondeu a muitas das perguntas que lhe foram feitas, embora não a todas. "Colaborou com as autoridades naquilo que entendeu que devia colaborar ", disse, no final de mais de quatro horas de interrogatório, o advogado do motorista, Ricardo Candeias, mostrando-se confiante em que esta "colaboração " possa fazer com que o seu cliente saia da cadeia a breve trecho, pelo menos para prisão domiciliária. Candeias diz que o seu cliente revelou ao Ministério Público "factos relevantíssimos" que poderão fazer com que os procuradores mudem de ideias relativamente às medidas de coacção que lhe foram aplicadas. Quais são esses factos, não disse. "O meu cliente só está preso por ter sido motorista de José Sócrates", insiste o advogado. "Devia haver respeito e consideração para com João Perna, que é vítima de uma situação para a qual não contribuiu uma migalha". A disponibilidade que João Perna mostrou nos últimos dias para voltar a ser interrogado destinar-se-ia precisamente, nas palavras do seu defensor, a esclarecer "mal-entendidos". O motorista foi interrogado da parte da manhã e da parte da tarde, com uma pausa de cerca de hora e meia para almoço.

Ricardo Candeias prefere não se pronunciar relativamente às considerações feitas pelo seu colega João Araújo sobre o motorista. No início desta semana o advogado de José Sócrates disse que entregaria nesta sexta-feira o recurso da prisão preventiva do ex-primeiro-ministro, que inicialmente esteve marcado para segunda-feira, mas que adiou alegando que necessitava de consultar antes o ex-primeiro-ministro.

Esta quinta-feira, João Araújo escusou-se a fornecer mais pormenores aos jornalistas. José Sócrates está preso preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora por suspeita de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada num caso relacionado com alegada ocultação ilícita de património e transacções financeiras no valor de vários milhões de euros.

Além de Sócrates e João Perna, no âmbito da mesma operação está ainda em prisão preventiva Carlos Santos Silva, empresário e amigo de longa data do ex-líder socialista. O processo tem ainda como arguido o advogado Gonçalo Trindade, que está proibido de contactar com os restantes arguidos, de se ausentar para o estrangeiro, com a obrigação de entregar o passaporte e de se apresentar semanalmente no DCIAP. com Lusa

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