Defesa quer perícia psiquiátrica a "Palito" e ex-mulher recorda perseguições sem fim

Agricultor confessou crimes em Valongo dos Azeites e chorou em tribunal. Garantiu que a única pessoa que queria atingir era a tia da mulher, que culpa de um divórcio do qual ainda hoje não se convence.

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O advogado à entrada do tribunal na manhã desta terça-feira Adriano Miranda
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Adriano Miranda

O advogado de Manuel Baltazar defendeu esta terça-feira, no Tribunal de Viseu, a realização de uma perícia psiquiátrica ao agricultor conhecido por “Palito”, acusado da morte de duas antigas familiares e de outras tantas tentativas de homicídio. Os juízes, porém, apenas ordenaram a elaboração de uma perícia sobre a personalidade.

Para os juízes, “Palito”, de 61 anos, não apresenta, por ora, qualquer “anomalia” que justifique algo mais do que a perícia requerida pelo Ministério Público na sequência do pedido do advogado, Manuel Rodrigues.

Se ainda vier a ser autorizada pelo tribunal, a perícia psiquiátrica poderá ajudar a determinar a inimputabilidade ou a imputabilidade reduzida do arguido, que responde pela morte da ex-sogra e da tia da ex-mulher, bem como por ter alvejado a filha e a sua antiga mulher. E isso poderá vir a revelar-se fundamental para os juízes optarem pela condenação a prisão ou a internamento.

Mesmo não ignorando as conotações negativas de alegar inimputabilidade – há arguidos que se “fazem passar por doidos” para escapar à prisão –, o advogado recordou que, após o processo em que foi condenado por violência doméstica, já em 2013, Manuel Baltazar não foi seguido por um psicólogo, apesar de um juiz o ter determinado. “Foi lançado às urtigas, ninguém lhe ligou”, observou.

Esta terça-feira, na primeira sessão do julgamento, o agricultor quebrou em choro perante os juízes, confessando ter sido o autor dos disparos mortais, de que agora diz estar arrependido. “Eu nunca a quis matar”, disse, referindo-se à ex-mulher. No início do seu depoimento, e questionado sobre o estado civil, insistiu ser "casado", o que irritou os juízes. "Não vamos continuar com estas coisas, sabe bem que não é casado, que se divorciou, não sabe"?, perguntou a juiz-presidente. "Palito" insistiu que não assinou os papéis do divórcio em 2011.

O choro continuou e com autorização dos juízes, e alegando problemas de saúde, sentou-se. Manhã cedo, começou a explicar que fora provocado por Elisa Barros, tia da ex-mulher, no fatídico dia 17 de Abril de 2014.

Os crimes ocorreram horas depois de ter ido ao Tribunal de São João da Pesqueira. Ia lá para ser questionado pelo juiz sobre as várias vezes que violou a proibição de se aproximar da ex-mulher, mas o magistrado não apareceu e a audiência foi adiada, relatou. Soube também nesse dia que tinha as contas e bens penhorados no âmbito da condenação a quatro anos de prisão, com pena suspensa, por violência doméstica. Tal, alegou, tê-lo-á enfurecido, mas depois foi almoçar.

O pior aconteceu quando conduzia de regresso a casa e pelo caminho, em Valongo dos Azeites, e, segundo contou, encontrou a tia da ex-mulher, de 66 anos, à porta da casa de familiares. Estava a preparar os bolos de Páscoa com a sua ex-sogra, a filha e a ex-mulher.

"O que é que este filho da puta anda aqui a ladrar?", terá interrogado a tia. Foram estas as palavras que o “cegaram”, fazendo-o perder a cabeça.

Segundo contou, foi ao carro, carregou a arma com cinco cartuchos zagalotes (alguns deles “enferrujados” e com balas usadas na “caça a javalis”) e disparou sobre a tia da ex-mulher. Depois ter-lhe-á aparecido a filha à frente. “Eu não sabia que estavam lá a minha sogra, a minha mulher e a minha filha. Não sei de onde surgiu a minha filha, que se prostrou à frente da arma”. Foi ela que agarrou a arma e tentou tirá-la ao pai.

“Larga-a que eu não te faço mal”, disse à filha, que ao fugir foi atingida por um disparo que era para a “velha”, forma de “Palito” se referir à ex-sogra de 85 anos, que morreu. Foi repreendido pela juíza: “A velha tem nome, chama-se dona Elina”.

O agricultor usou o microfone do tribunal para mostrar como pegava na caçadeira. A arma, que alega ter perdido num poço ao terceiro dos 34 dias em que esteve fugido, estaria virada para baixo quando acertou na ex-mulher, Maria Angelina. De manhã, o arguido disse que não a tinha visto quando atirou; à tarde, contudo, já admitiu que a ouviu falar segundos antes de a atingir.

Garantiu que só queria atingir a tia Elisa, no seu entender a grande culpada da separação. Mais à frente, porém, questionado por um dos juízes se também quis matar a ex-sogra, o agricultor abanou a cabeça e disse primeiro “sim” e depois “não”. "Palito" diz ter disparado mais um tiro para a tia, mas foi Maria Angelina que foi atingida numa perna, a 30 centímetros da virilha.

A ex-mulher, que foi ouvida durante a tarde mas só depois de o arguido sair da sala de audiências, desmentiu que a tia tenha tido sequer “oportunidade” de se cruzar com “Palito” naquela tarde. “Ele rondava sempre por onde eu andava. Eu virava à esquerda e ele também. Não deixava de me fazer marcação cerrada”, disse Angelina, recordando que a última vez que tinha conversado com o ex-marido foi em Setembro de 2013, no cemitério local, tendo sido ameaçada com uma foice. “Que mais cuidado eu posso ter? Ando escondida. Não me sinto segura em lado nenhum”, desabafou a ex-mulher.

O advogado não tem ilusões sobre a mais que provável condenação do seu cliente pelas mortes. Espera, porém, conseguir que seja absolvido das tentativas de homicídio da filha e da ex-mulher.

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