Acidente em França: condutor e dono da carrinha ouvidos nesta quinta-feira

Funerais das vítimas realizaram-se nesta quarta-feira em vários concelhos das regiões Norte e Centro do país.

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Cinfães foi nesta quarta-feira uma comunidade unida na dor Nelson Garrido
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Nelson Garrido
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O jovem de 19 anos que na quinta-feira da semana passada conduzia a carrinha envolvida no acidente em França, no qual morreram 12 emigrantes portugueses, vai continuar sob custódia policial pelo menos até esta quinta-feira, dia em será oficialmente aberto o inquérito e respectivo interrogatório. Também o proprietário da empresa de transportes, que está igualmente sob custódia policial desde terça-feira, irá continuar nesta situação, segundo revelou ao PÚBLICO fonte da Secretaria de Estado das Comunidades.

Estas duas testemunhas do acidente ainda não tinham sido ouvidas pelas autoridades por estarem, até à manhã de terça-feira, internadas numa unidade psiquiátrica.

Nesta quarta-feira, Cinfães e várias outras localidades das regiões Norte e Centro do país despediram-se em silêncio das vítimas do acidente de França. Só em Cinfães, no distrito de Viseu, foram a enterrar quatro das 12 vítimas mortais da tragédia da última quinta-feira.

“Isto dá pena, mas é a lei da vida.” Este foi o desabafo que se ouviu na aldeia de Espadanedo, concelho de Cinfães, no final das cerimónias fúnebres de três das vítimas do acidente de França que na semana passada matou 12 portugueses. Uma comunidade unida na dor.

O casal Angelina Silva e Aires Cardoso e Marta Fabiana, a filha de sete anos, foram a sepultar no cemitério local, à mesma hora que em Travanca, também no concelho de Cinfães, a população se despedia de Sérgio Costa, de 35 anos, outra das vítimas.

Desde a chegada dos corpos à Igreja de Espadanedo que o silêncio tomou conta da aldeia. Logo cedo, pela manhã, os habitantes dirigiram-se ao templo para prestar homenagem e depositar coroas de flores, enquanto na capela do lugar onde a família vivia, em Saímes, um poster gigante foi colocado na porta.

À hora das cerimónias fúnebres — 15h —, centenas de pessoas encheram a Igreja e concentraram-se no adro. Na homilia, que foi proferida pelo bispo de Lamego, D. António Couto deixou uma mensagem de esperança à comunidade, lembrando que “numa tragédia e perante a fragilidade da vida humana não nos resta senão as lágrimas”.

E foi o silêncio que também acompanhou as muitas pessoas que engrossaram o cortejo fúnebre que saiu da Igreja para percorrer cerca de 500 metros até ao cemitério onde as três vítimas foram sepultadas. “Andavam lá fora para ganhar dinheiro para construir a sua casita e agora acabam aqui”, lamentou um dos habitantes de Espadanedo, aldeia que conhecia bem a família.

“Ele era o irmão mais novo de dez. Aqui eram todos muito bem vistos, é que nós somos gente de afectos”, desabafou Manuel Costa. “É a vida, nós sabemos, mas aquela criança... é uma dor insuportável”, lamentou outro dos habitantes que, à porta do cemitério, olhava para o seu interior como quem procura por respostas.

Enquanto no interior era respeitado o momento da família, cá fora as palavras eram de solidariedade, mas também de revolta por “um acidente que tira a vida a uma dúzia e que ainda tem muito para contar”.

Cinfães é, agora, um “concelho enlutado por uma tragédia ainda sem explicação”, considerou Armando Mourisco, presidente da autarquia local.

“Só hoje é que esta gente conseguiu ter alguma paz. Foram muitos dias à espera da chegada dos familiares. Agora, é fazer o possível para minimizar a dor”, salientou o autarca, que esteve presente nas cerimónias em Travanca e em Espadanedo.

Armando Mourisco lembrou que desde o dia do acidente foram disponibilizadas equipas de apoio psicológico para as famílias e para a comunidade em geral. “Estamos a acompanhar e a dar a ajuda necessária, mas só o tempo poderá fazer o seu trabalho”, disse o autarca. com Luciano Alvarez

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