Um milhão de pessoas nascidas em Portugal reside noutro país da União

França, Luxemburgo e Alemanha destacam-se como velhos destinos. Suíça, Reino Unido e Espanha como novos.

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A França continua a ser o principal destino da emigração. Era sobretudo para lá que os portugueses fugiam durante a Guerra Colonial Adriano Miranda

Os números ainda não reflectem a debandada dos últimos três anos, mas a análise dos censos de 2011 permite perceber, com maior precisão, como gente nascida em Portugal se tem propagado pelo Velho Continente. Em 2011, à volta de um milhão residia noutro país da União Europeia.

É a análise feita por Rui Pena Pires, Cláudia Pereira e Inês Espírito Santo, do Observatório da Emigração, que integra o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, numa parceria com a Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas.

Não há uma revelação. Para já, as estatísticas trabalhadas só permitem afirmar, com precisão, o que tem vindo a ser dito com recurso a outras fontes, explicou Rui Pena Pires, ao PÚBLICO, por telefone. A equipa ainda não dispõe de todos os dados pedidos. Falta-lhe contar a Bélgica, cuja estatística ainda não está disponível. Não conta a Croácia, que ainda não fazia parte da União Europeia (UE), nem a Bulgária, a Lituânia ou os Países Baixos, que por imperativos legais não disponibilizam tal informação.

Os censos, que resultam de inquéritos aplicados entre Março de 2010 e Março de 2011, cifram em 960.551 os nascidos em Portugal residentes noutros 22 países da UE. Os dados estimados da Bélgica indicam outros 28 mil e os dos Países Baixos outros 15 mil, o que atira aquela população para cima de um milhão.

Os investigadores também solicitaram estatísticas aos quatro países da Associação Europeia de Comércio Livre (em inglês: European Free Trade Association). O Liechtenstein não a disponibilizou, a Islândia e a Noruega pouco representam, mas a Suíça tinha 169.458 nascidos em Portugal.

Os seis grandes destinos
França (617 mil), Luxemburgo (61 mil) e Alemanha (75 mil) destacavam-se como velhos destinos. Suíça (169 mil), Reino Unido (92 mil) e Espanha (99 mil) sobressaíam como novos destinos.  Nessa meia dúzia de países concentravam-se 98% dos nascidos em Portugal residentes na UE ou nos países associados.

Era no Luxemburgo que os nascidos em Portugal causavam maior impacto. Representavam 30% dos estrangeiros residentes, 12% da população total. O outro país de maior impacto era a Suíça, onde os nascidos em Portugal já pesavam 9%. E, todos os dias, chegam mais ao Grão-Ducado e à federação helvética.

Para perceber a propensão para aqueles dois países multilingues bastará comparar censos. Em 2001, havia 41.690 nascidos em Portugal a morar no Luxemburgo, menos 19.201 do que dez anos depois. Na Suíça, a comunidade ficava-se pelos 100.975, menos 68.483 do que na altura dos últimos censos.

Em termos absolutos, como é sabido, nenhum país bate a França. Era, sobretudo, para lá que fugiam os portugueses durante a Guerra Colonial (1961 a 1974). O país nunca perdeu atracção para os portugueses. A população continua a aumentar, apesar dos incontáveis regressos iniciados com a Revolução de 1974.

Espanha em queda
Antes da actual crise, que voltou a atirar Portugal para os níveis migratórios das décadas de 1960 e 1970, era para a Espanha que os portugueses mais estavam a ir. Houve uma taxa de crescimento de 47% entre 1999 e 2001. Entre 2003 e até 2007, as taxas foram sempre superiores a 30%. Entre 2003 e 2004 alcançaram mesmo os 104%. A partir de 2007, as entradas decrescem a grande ritmo. A estatística mostra que saíram muito mais pessoas do que entraram.

O fluxo para Espanha estava muito associado à construção civil e às obras públicas, recorda Rui Pena Pires. Muitos portugueses viviam num permanente vaivém, como, de resto, é típico acontecer a quem trabalha em obras não muito distantes. Só que a crise, em Espanha, afectou muito o sector imobiliário.   

O Reino Unido, sublinha o professor, é o grande destino do momento. De uns censos para outros, os residentes nascidos em Portugal passaram de 36.556 para 92.065. Com o apertar das políticas de austeridade, o número de entradas acelerou: 16 mil em 2011, 20 mil em 2012, 30 mil em 2013.

Para o Reino Unido avançam pessoas com formação baixa, média ou superior. “É aí que que a emigração qualificada tem mais expressão”, diz o investigador. Em 2011, 20% tinham curso superior. Um reflexo da emigração recente, salienta. Ainda não dispõe desse género de dados para todos os países, mas de alguns que ajudam a relativizar: 5% dos portugueses na Suíça e 3% no Luxemburgo tinham pelo menos uma licenciatura.

Alemanha em ascensão
Há muito que a Alemanha também não atraía tanta gente. Tinha uns 70 mil em 2001. Perdeu muitos dos que para lá tinham ido trabalhar nas grandes obras do pós-queda do muro de Berlim. Começou a recuperar nascidos em Portugal a partir de 2007. Em 2011, contava 75 mil. Serão, decerto, mais agora.

Logo em 2012, o Statistische Bundesamt, contabilizou mais de um milhão de entradas e 712 mil saídas, o que resultou no saldo mais elevado desde 1995. Portugal estava entre os países que responderam pelo maior número de entradas. Uns 12 mil portugueses mudaram-se para lá naquele ano. Não por acaso. Desde 2010, os serviços de emprego alemães já fizeram diversas campanhas de recrutamento de trabalhadores especializados em várias zonas do Sul da Europa.

Se não fosse este fluxo migratório, a taxa de desemprego seria superior em Portugal. Mesmo assim, era de 9,5% em 2009, antes dos três programas de estabilidade e crescimento e do memorando de entendimento assinado com a troika – constituída por representantes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional. Alcançou os 16,3% no final de 2013 e está agora nos 15,1%. 
 

   

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