A revelação do design thinking

No artigo “A revolução do design thinking” (Público online, 24 de julho de 2013) tentei sintetizar tudo aquilo que tinha lido em artigos científicos, livros e casos de estudo sobre design thinking. Procurei explicar design thinking por intermédio de cinco metáforas: lógica, sistema, processo, inovação e organização. Neste segundo artigo, pretendo partilhar a revelação e não a revolução do design thinking. A experiência com design thinking em vez da mera leitura sobre o tema.

Em setembro de 2013, participei num curso intensivo de três dias na Escola de Design do Instituto Hasso Plattner em Potsdam, na Alemanha. Estiveram presentes cerca de 30 profissionais de todo o mundo, incluindo arquitetos, designers,
economistas, engenheiros, jornalistas, juristas, psicólogos e professores universitários de instituições como o Fórum Económico Mundial, o Instituto Europeu de Tecnologia, a Universidade de Berlim, a Siemens, a SAP e a ZDF.

Em três dias tivemos de responder a um desafio de inovação relativamente intangível: como redesenhar a participação política da nova geração de eleitores. Experienciamos todo o processo de design thinking, desde a investigação do fenómeno do ponto de vista do utilizador, incluindo entrevistas nas ruas de Potsdam, até à criação, teste com utilizadores reais e apresentação de um protótipo que permita resolver um problema implícito no fenómeno. No caso da nossa equipa, o resultado foi um protótipo de uma nova aplicação informática que permite pesquisar um tema num motor de busca que apenas devolve os textos publicados no âmbito de uma campanha eleitoral, facilitando a comparação sistemática de cada candidato relativamente ao tema.

Durante o curso, foi possível “sentir na pele” o processo iterativo sobre o qual assenta o design thinking, mas também a singularidade do espaço e das técnicas de trabalho em equipa. Uma verdadeira revelação para quem está habituado a usar o hemisfério esquerdo do cérebro com palavras e números, em vez do hemisfério direito com imagens e protótipos.

Nos últimos cinco anos, lecionei mais de 150 workshops sobre competências de investigação científica a cerca de 2600 pessoas em 11 países. Costumo falar do dilema entre rigor e relevância, tão caro aos cientistas. O design thinking posiciona-se mais perto da relevância, dado que investiga na procura de inspiração e não tanto de rigor. O que verdadeiramente distingue o design thinking é a relevância dos seus resultados para a sociedade, amplamente demonstrada pela capacidade de inovação de empresas como a Ideo.

Essa capacidade de inovação resulta da combinação entre investigação, ação e arte. O que torna o design thinking tão especial é a junção de três mundos que a sociedade pós-moderna ainda separa: a investigação básica das universidades, a
investigação aplicada dos politécnicos e a criatividade das escolas de artes. Três formas de pensar, de fazer e de sentir que raramente se encontram numa equipa de trabalho. Talvez por isso se devesse chamar design thinking, doing and feeling.

Docente da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico.

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