A pescada arrepiada

A pescada arrepiada e anzolada é a prova da existência de Deus.

Quando eu era pequeno, a pescada-branca era o mais caro dos peixes. Todos os dias, nos jornais matutinos e vespertinos, publicava-se uma tabela do preço dos peixes e a pescada-branca era sempre o mais caro.

Isto foi antes da pescada congelada e da Menina Pescadinha, uma das poucas boas invenções publicitárias dos anos 1960. Foi aí que nasceu a expressão "arrota postas de pescada" para quem se gabava sem razão para isso. A formulação mais completa era "ele come carapaus, como os gatos, mas, quando fala, arma-se em quem comeu pescada".

Nesta semana já comemos quatro pescadas, pescadas com anzol, das quais três foram arrepiadas com sal com a devida antecedência.

Tudo isto graças ao melhor restaurante de peixe do mundo — o Neptuno na Praia das Maçãs —, onde o melhor comprador de peixe do mundo (o Nando) se entende perfeitamente com o melhor cozedor, fritador e grelhador do mesmo mundo (o Paulo).

Hoje, a pescada é bastante mais barata (e melhor) do que os peixes da época (a espantosa dourada e o robalo que finalmente valem a pena).

O que interessa é telefonar três horas antes, a pedir que arrepiem a pescada com sal grosso. Duas horas antes também não traz felicidade: a pescada recusa-se ainda a oferecer-se em flocos etéreos de eternidade.

Agora é a única altura do ano em que deve procurar douradas perfeitas e robalos (e vários) dificilmente aperfeiçoáveis.

Já a pescada arrepiada e anzolada é a prova da existência de Deus. Aproveite-a já!

 

 

 

 

 

 

 

 

Sugerir correcção
Ler 3 comentários