A fortaleza e os refugiados

Um conjunto de várias dezenas de refugiados sírios que entram em Portugal com passaportes ilegais, com a complacência das autoridades da Guiné-Bissau, na prática um Estado falhado controlado por narcotraficantes.

Este relato breve da odisseia do grupo de refugiados que na terça-feira entrou ilegalmente em Portugal junta dois buracos negros abertos às portas da fortaleza Europa. De um lado a guerra civil na Síria, um conflito feroz que destrói um país perante a impotência e a complacência da comunidade internacional. 

A Europa fortaleza prefere desviar o olhar e não ver o sofrimento dos que a procuram em desespero. E estes caem nas mãos de redes clandestinas, que tanto podem transportar refugiados como terroristas. Do outro lado do espectro, a Guiné-Bissau, país africano que se afunda como a Somália ou a República Centro-Africana.

O incidente, inadmissível, ocorrido com o avião da TAP, cuja tripulação foi forçada a embarcar os cidadãos sírios que estavam ilegais, não podia ficar sem resposta das autoridades portuguesas. O cancelamento dos voos da TAP para Bissau isola cada vez mais um país e afecta, em primeira instância, os cidadãos portugueses ali residentes.

É discutível que Portugal se retire do terreno desta maneira, mas a alternativa era ficar sem um instrumento de pressão sobre as autoridades de Bissau, que Lisboa não reconhece.

De uma maneira ou de outra, o que fica claro é que é uma ilusão a Europa pensar que os conflitos, as tragédias humanas e os Estados que colapsam na sua vizinhança não acabarão por lhe bater à porta. Em primeiro lugar, Portugal tem a obrigação de acolher estes refugiados, assim que fique determinado que nenhum deles representa qualquer ameaça à segurança do país.

Eles são as vítimas e estão na primeira linha de um combate que lhes rouba a possibilidade de uma vida normal. Se a Europa não consegue ajudar países que se desmoronam, tem pelo menos a obrigação de ajudar os homens e as mulheres que fogem dessas guerras.
 
 
 
 

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