40 anos antes

Neste processo, o Serviço Nacional de Saúde foi determinante. Essencial.

Onde estavas no 25 de Abril? Terá sido a questão mais vezes formulada por uns e outros. Sem dúvida.

Muitos médicos terão respondido que foram para os hospitais. É verdade, antes do nascer do Sol, logo às 4h26m, o primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA) sublinhava: “Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração, que se deseja, sinceramente, desnecessária”; a sua difusão foi, depois, repetidamente lida por Joaquim Furtado aos microfones do Rádio Clube Português. Inesquecível.

Foi o primeiro sinal de prevenção da nova Era, uma vez que os médicos, apesar de mobilizados para os respetivos serviços, não necessitaram de intervir.

Em maio, o cirurgião do Banco do Hospital de São José, António Galhordas, é chamado ao desempenho de funções de secretário de Estado da Saúde. Mudança.

Em julho, a mudança do Governo coloca outro médico, também major do MFA, naquelas funções. Carlos Cruz Oliveira promove a criação, em setembro de 1974, por simples despacho, das Comissões Integradoras dos Serviços de Saúde Locais (CISSL).

O mesmo secretário de Estado edita o célebre Livro Cinzento, em novembro de 1974, Subsídios para o lançamento das bases do Serviço Nacional de Saúde, publicação que, além de retratar o atraso da saúde em Portugal pelos indicadores existentes à época, compara os sistemas da União Soviética, dos Estados Unidos da América, da Inglaterra e de França. Proclama e apela, igualmente, à participação dos cidadãos nos seguintes termos: “... gizemos todos um plano que se possa rapidamente concretizar. Ele será mais uma prova da enorme capacidade criadora do Povo Português.” Esperança.

Em junho de 1975, é criado o Serviço Médico à Periferia. Pela primeira vez, os médicos que desejavam prosseguir a carreira do Internato foram exercer nos concelhos de todo o país. Experiência valiosa. Ímpar.

No verão de 1975, Francisco Pereira de Moura, como ministro dos Assuntos Sociais, alarga o receituário das “caixas de previdência” a todos os serviços. São criadas as Administrações Distritais de Saúde (ADSS), precursoras das Administrações Regionais de Saúde. Progresso.

No último Governo Provisório, Albino Aroso, em 1976, inicia medidas concretas para proteção da mãe e da criança. Confiança.

Inevitáveis divisões ocorreram. Divergências. Caminhos distintos. Opções diferentes. Clima por vezes quente. Desejos desencontrados. No entanto, a saúde cada vez mais próxima, com mais igualdade, menos iniquidade. Todos construíram. Foi a maior aspiração dos cidadãos.

O início foi assim. Dois anos de debate. Dois anos de transição. Dois anos de relançamento. Dois anos para perspetivar o futuro. Prepararam-se outras etapas. Alicerces robustos.

Em 1973, a oposição, muito justamente, reclamava mais saúde, mais centros, mais hospitais, mais acesso. Nesse ano, os portugueses tinham, em média, uma vida mais curta do que agora sucede. Hoje, a esperança de viver é 13 anos superior. São 13 anos de diferença que traduzem os sucessos alcançados desde então. Neste processo, o Serviço Nacional de Saúde foi determinante. Essencial.

Director-geral da Saúde

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