Três e seis nove e vai um...

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Para quem jurou acabar com o “eduquês”, há sempre o politiquês, o passos-coelhês e, se falhar tudo, a estupidez. Na verdade, o ministro da Educação tudo tem feito para não falhar nenhum erro. E consegue acertar em todos. Falhar mais, falhar pior (como não disse Beckett). Temos de dar o mérito a Nuno Crato. Mas já quanto a dar-lhe o crédito não, as contas vão (irão?) sair erradas e alguém as pagará com juros. Esta Bolsa de Contratação de Escola (BCE) cobra mais juros aos professores, alunos e pais do que o Banco Central Europeu nos piores dias da troika.

Quando Crato diz (ou disse?) no Parlamento que “os professores se mantêm”, não queria dizer “manter-se-ão”. Isto é, eles vão (irão) mesmo para a rua, cumprindo “o quadro legal existente”. Quando Nuno Crato disser que no Governo “eles mentem”, obviamente que não queria dizer “eles mentirão”. Porque na verdade já estão (estavam) todos a mentir desde o princípio, há que ser rigoroso com a linguagem e cumprindo “o quadro legal existente”. E compreender a linguagem dos números, aquela que, com o ministro Crato, nunca se engana mas também não acerta.

De qualquer modo, não há motivo para zangas e nervos: “O Governo promoveu já a solicitação ao Conselho Superior da Magistratura para a designação de um magistrado a presidir a uma comissão com representantes das partes que analisem e proponham uma forma célere, e seguindo o quadro legal existente, para as formas de compensação por encargos comprovadamente acrescidos por estes erros da administração escolar, cometidos na BCE original”, raios partam, tragam de volta o eduquês que este comissionês-compliquês-irresponsês é (será?) completamente intragável! Que maneira de falar, ponham o homem a conversar com o chefe, o Pedro Passos Coelho, durante duas horas à beirinha do cabo da Roca e um deles, o tecnofórmico ou o matemático, há-de desistir primeiro do tormento.

Ó mar salgado, quanto do teu sal são (serão) lágrimas do Diferencial!

Por falar em Pedro, ou Peter, a História registará a quantidade de pessoas que nos últimos meses pensou e escreveu, na imprensa e na Internet, uma equação difícil de rebater. Aqui vai mais uma vez: vários ministros do XIX Constitucional, a começar pelo primeiro de todos, atingiram o seu Princípio de Peter: “Num sistema hierárquico, todo o funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência.” Os exemplos de Laurence J. Peter são, por exemplo, Hitler que era um excelente político (infelizmente) e um general que se revelou incompetente. Ou Sócrates (o grego) que era muito bom filósofo a defender as suas ideias, mas um fraco advogado de defesa. E Crato, que era um bom comentador televisivo de Educação e vai-se a ver e é só isto, um mal-educado.

Mas, para contrariar a ideia de incompetência total, eis que regressam em força, com provas concretas, os dois campos teóricos do matemático e estatístico Nuno Paulo Arrobas de Sousa Crato (Lisboa, 9 de Março de 1952). Em primeiro lugar, os processos estocásticos, isto é, funções temporais que variam aleatoriamente, processos aleatórios que dependem do tempo. Ele conseguiu colocar centenas de professores, milhares de pais e de alunos em funções aleatórias, sem saberem onde pousar, feitos baratas-tontas de norte a sul do país, desesperados todo o mês de Setembro e agora Outubro, sem que se saiba como é que mais uma trapalhada deste ministério teimoso vai acabar.

Em segundo lugar, a outra especialidade académica de Crato, a Progressão Geométrica: como é que uma incompetência matemática de cacaracá — uma média simples que, afinal, foi ponderada com escalas não compatíveis — e que colocou professores com anos de trabalho em Vila Real de Trás-os-Montes a mais de 600 quilómetros, no Algarve — consegue crescer para um tal caos político? Porque cada erro dá origem a dois erros, e esses dois a quatro, e assim sucessivamente.

E com isto obtemos a seguinte equação: um ministro demora duas semanas a reconhecer um erro e, quando o faz, cria mais não sei quantos. E como as pessoas gostam de se rodear dos seus semelhantes, desde que valham um bocadinho menos, Crato tem ainda a seu lado um secretário de Estado do Ensino e Administração Escolar. Um tal João de Almeida — com um brincalhão “Casanova” lá no meio do nome — que, do alto da sua poderosa insignificância, larga duas novas anedotas em directo na TV: a primeira é que os professores que foram colocados e depois desconvidados podem (podiam?) sempre recorrer “aos tribunais”. E depois que iam (serão?) ser abertos mais “dois procedimentos concursais”.

Procedimentos concursais! E desta vez não foi erro, o homem disse isto e repetiu-o, acha que procedimento concursal é mais bonito do que dizer concurso. Espera, se calhar é porque não é bem um concurso, assim como a colocação dos professores não foi uma colocação, mas um jogo de dados viciado, jogado por frequentadores de uma taberna na Av. 5 de Outubro.

Por falar nisso, estamos já ao nível matemático do petisco, como aquele dono de tasca alentejano que, aproveitando a fraca aritmética e o adiantado da hora, fazia as contas assim:

— Ora bem... Três imperiais e uma dose de túbaros de borrego e uma de tortulhos... três e seis nove e vai um...

— Três e seis nove e vai um?!

Ai vai, vai. Ou irá, irá?     

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