Sobem para 59 os casos de “legionella” na região de Lisboa

Em hospitais do Centro Hospitalar Lisboa Central estarão internadas nove pessoas. A origem deste surto de “legionella” é ainda desconhecida

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A unidade hospitalar vila-franquense começa já sentir dificuldades para responder a esta necessidade excepcional de internamentos Enric Vives-Rubio

Durante a última noite deram entrada mais 23 pessoas no Hospital de Vila Franca de Xira a quem foi diagnosticada infecção com a “legionella”, bactéria que pode provocar problemas respiratórios graves. Nesta altura são já 50 os doentes internados na unidade hospitalar vila-franquense afectados por esta doença, todos com residência nas três freguesias do sul do concelho de Vila Franca de Xira (Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria e Vialonga). A este somam-se nove doentes que estão internados em hospitais do Centro Hospitalar Lisboa Central.

A origem deste surto de “legionella” é ainda desconhecida, mas as autoridades de saúde estão a fazer investigações no hospital (dialogando com as pessoas afectadas e analisando exames) e na sua região de origem, procurando localizar a causa do problema.

O PÚBLICO sabe que as pessoas afectadas têm entre 30 e 80 anos e são, na sua maioria homens. Não há registo de crianças com problemas associados à “legionella” nesta área. De acordo com o director clínico do Hospital de Vila Franca, Carlos Rabaçal, num balanço feito pelas 20h de ontem, quando eram conhecidos 27 casos, apenas um deles era considerado mais preocupante, devido à fragilidade do estado do doente.

A unidade hospitalar vila-franquense, com um total de 280 camas, começa já sentir dificuldades para responder a esta necessidade excepcional de internamentos, mas este sábado de manhã ainda não precisou de fazer nenhuma transferência para hospitais de Lisboa.

De acordo com Carlos Rabaçal, este afluxo anormal de doentes com sintomas de legionella foi comunicado às autoridades de saúde e o hospital desconhece as origens do problema. Carlos Rabaçal salientou, contudo, que a bactéria não se transmite pelo contacto humano nem pelo consumo de água. A Direcção-Geral da Saúde (DGS) está reunida para perceber se se justificam outras medidas de acompanhamento deste caso.

Os doentes são originários das freguesias do Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria e Vialonga (todas do sul do concelho de Vila Franca), mas também de Bucelas (concelho de Loures) e Samora Correia (concelho de Benavente). O PÚBLICO apurou que os inquéritos realizados pela Delegação de Saúde de Vila Franca não identificaram nenhum fio condutor entre as pessoas atendidas no hospital

A exposição à bactéria da legionella pode originar infecções respiratórias e os sintomas incluem febre alta, arrepios, dores de cabeça e dores musculares. A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira distribuiu, por seu turno, um comunicado onde explica que o laboratório dos seus Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento (SMAS) procedeu a análises à água distribuída no concelho e “não verificou qualquer registo anómalo dos valores normais para consumo humano”. A autarquia contactou, também, a EPAL (empresa que fornece água ao concelho em alta), que assegurou que “não tem qualquer registo de alteração das condições de abastecimento”.

Centenas de casos em Portugal
Portugal registou, entre 2009 e 2013, centenas de casos de doença do legionário, resultante da infecção pela bactéria legionella, segundo dados divulgados pela DGS e pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). Os números constam do relatório Doenças de Declaração Obrigatória 2009-2012, divulgado pela DGS, e indicam que, neste período, foram notificados, no país, 459 casos.

Numa análise mais recente feita pelo INSA, o organismo refere que, nos 284 casos registados entre 2010 e 2013, se evidencia que mais de 60% eram de residentes na região Norte, com destaque para os distritos do Porto e de Braga.

De acordo com o relatório do INSA, a maioria do total de casos notificados em Portugal deu-se em homens com mais de 30 anos, com o período do Inverno e da Primavera a serem os que registaram menos casos, "o que corresponde à distribuição sazonal esperada".

Esta expectativa justifica-se pelo facto de a multiplicação da legionella ser favorecida pela temperatura e pela humidade. Aliás, estas bactérias podem existir em reservatórios naturais ou artificiais, como humidificadores ou sistemas de ar condicionado, piscinas ou jacuzzis.

É ainda salientado que a doença, apesar de ser de declaração obrigatória, estará a ser subnotificada e subdiagnosticada. Ainda assim, o número de casos tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, tal como acontece no resto da Europa.

No final de Setembro, em Almodôvar, no Alentejo, foi identificada a presença da bactéria legionella nos reservatórios da rede pública de distribuição de água da vila, mas, por se tratar da estirpe legionella spp, considerada a "menos perigosa", a Administração Regional de Saúde do Alentejo concluiu não haver um risco grave para a saúde pública pelo consumo da água.

Ainda assim, a autarquia aconselhou a população a evitar ou minorar a exposição por inalação de partículas de água provenientes de actividades como banhos de chuveiro, rega por aspersão e lavagem de automóveis e pavimentos com mecanismos de pressão. Não foram registadas, a propósito deste caso, quaisquer infecções pela bactéria.

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