Santo Martinho este

Segundo aprendi, o verdadeiro Verão de São Martinho, ao contrário deste farsola que anda por aí, tinha dias tórridos e noites geladas.

Tem sido bonito o Verão de São Martinho. Afinal existe. Em anos futuros, quando disserem que nunca existiu haverá sempre um justiceiro que se levantará e calará o povo perguntando "então e o de 2015...?"

"Ah sim", acenarão as cabecinhas, "aquele fim-de-semana comprido que entrou pela semana seguinte a ganhar balanço... que maravilha... que pena já não haver Verões de São Martinho assim..."

Tenho passado os últimos dias a falar com os sábios locais que sempre me afiançaram que os Verões de São Martinho pertenciam ao vasto conjunto de experiências agradáveis que já não estão disponíveis desde o tempo em que eram gaiatos e que geralmente caem sob a égide fatal do "ah, isso era antigamente...".

"Então este tempo não é tempo de Verão de São Martinho?", invisto. "Não..." balbuciam, virando as costas ao diálogo, "...os dias sim mas as noites não... não há água-pé sem frio e não há São Martinho sem água-pé..."

Segundo aprendi, o verdadeiro Verão de São Martinho, ao contrário deste farsola que anda por aí, tinha dias tórridos e noites geladas. Como em todas estes desentendimentos há sempre um preconceito tácito segundo o qual existem dois climas: um para quem trabalha a terra, à mercê dos elementos, e outro para quem anda para aí a passear-se de automóveis, com o ar condicionado ligado.

Por outro lado as castanhas este ano estão excepcionalmente gordas e saborosas e, como elas não mentem, são delas as últimas palavras: é São Martinho, sim senhor.

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