O Museu do Aljube — resistência e liberdade

Procuraremos contribuir para o êxito do museu, que deverá ter um papel activo de preservação da memória da luta de muitos milhares de portugueses contra a ignomínia da ditadura.

No próximo dia 25 de Abril, uma data apropriada, pelas 19 horas, o presidente da CML, Fernando Medina, inaugura o Museu do Aljube — Resistência e Liberdade no edifício da antiga cadeia de presos políticos, do Aljube, situada ao lado da Sé de Lisboa.

O movimento cívico Não Apaguem a Memória  NAM estará presente com muitos dos seus associados e regozija-se por se ter atingido um dos principais objectivos por que vinha lutando desde a sua origem, em 2005.

O Museu do Aljube dedicado à memória da luta pela liberdade é o resultado de uma empenhada acção dos activistas do NAM na preservação da memória, junto das autoridades nacionais, Assembleia da República, Governo, Câmara Municipal de Lisboa, a partir de 2006, nas quais encontrou uma ampla receptividade.

Eis os principais momentos do caminho para o Museu do Aljube:

Em 1 de Julho de 2006, Artur Pinto, ex-preso político do Aljube, fundador e dirigente do NAM, organizou uma concentração junto ao edifício do Aljube com a presença de mais de uma centena de ex-presos políticos, familiares e amigos. Desta concentração resultou um abaixo-assinado onde se exige a "recuperação do edifício do Aljube como local de memória da resistência ao fascismo".

Este documento foi assinado por 56 ex-presos políticos e acompanhou a petição do NAM com mais de seis mil assinaturas, entre as quais as dos ex-presidentes Jorge Sampaio e Mário Soares. Nele se exigia a salvaguarda dos locais de memória da resistência antifascista e foi entregue, em Julho de 2006, ao então presidente da AR, dr. Jaime Gama.

Várias representações do NAM reuniram então com todos os grupos parlamentares da AR e com o seu presidente para explicar os objectivos do movimento, com particular destaque para a criação do Museu no Aljube. Houve da parte de todos um claro apoio.

A petição à AR foi objecto de um excelente relatório do deputado e capitão de Abril Marques Júnior, já falecido, que foi objecto de debate em plenário, a 7 de Junho de 2008. Da petição do NAM resultou a aprovação pela AR, por unanimidade, da Resolução n.º 24/2008, que recomenda ao Governo e demais autoridades, logo de início:

"1) Apoio a programas de musealização, como a criação de um museu da liberdade e da resistência, cuja sede deve situar-se no centro histórico de Lisboa (antiga instalação da Cadeia do Aljube), enquanto pólo aglutinador que venha a configurar uma rede de núcleos museológicos…"

De 2006 a 2008, a direcção do NAM teve encontros com o presidente da CML, António Costa, e com o então ministro da Justiça, Alberto Costa, para a criação do Museu do Aljube. Houve da parte de ambos total receptividade. Do presidente da CML, para assumir a remodelação do edifício e assumir a tutela do futuro museu. Do ministro da Justiça, ex-preso político do Aljube, para transferir os serviços do seu ministério que ocupavam o edifício, o que fez com prontidão.

Na sequência destas diligências do NAM procedeu-se no 25 de Abril de 2009, nas instalações do Ministério da Justiça, à assinatura de dois protocolos. Um entre a CML, o ministério da Justiça e o ministério das Finanças que transferiu o uso do edifício para a CML para aí proceder à instalação do museu, e outro entre a CML e o NAM para realização de uma grande exposição no Aljube e que seria um ensaio para o futuro museu.

Neste protocolo é afirmado que:

A associação/movimento cívico Não Apaguem a Memória!, fundada em 17 de Maio de 2008, resultante da transformação do movimento com o mesmo nome que teve a sua origem em 5 de Outubro de 2005, tem-se distinguido na exigência de salvaguarda, investigação e divulgação da memória da resistência à ditadura e da liberdade conquistada em 25 de Abril de 1974;

— Simultaneamente, o NAM, em parceria com o Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (IHC-FCH-UNL) e do Arquivo e Biblioteca da Fundação Mário Soares (AB-FMS), propõe a realização, no espaço do Aljube, entre 25 de Abril de 2010 e 25 de Abril de 2011, da exposição A Voz das Vítimas, integrada nas comemorações do centenário da República;

A exposição teve enorme êxito, foi visitada por mais de 14 mil visitantes, muitos dos quais estrangeiros. Resultou do excelente trabalho do IHC-FCH-UNL, dirigido por Fernando Rosas, com participação muito relevante de Irene Pimentel, investigadora deste instituto e então membro da direção do NAM, assim como do Arquivo e Biblioteca da Fundação Mário Soares, sob a direção de Alfredo Caldeira.

Para além de participação na concepção e em todo o processo que conduziu à exposição, ao NAM coube também a negociação e a candidatura ao projecto que veio a ser apoiado pela Comissão das Comemorações do Centenário da República. O NAM conseguiu ainda uma significativa angariação de fundos junto de sócios e amigos, que ultrapassou os 40 mil euros.

Posteriormente, em 2013, a direção do NAM foi com mágoa surpreendida pela informação da CML de que nenhum representante do NAM integrava a comissão instaladora do museu. Dada a composição deste órgão, concluímos que os critérios e os interesses não contemplavam a participação nele da entidade a que o Museu do Aljube deve a sua origem.  

É certo que o primeiro membro do grupo “Personalidades” do conselho consultivo, o professor e historiador António Borges Coelho, é sócio honorário do NAM e que mais uns quantos elementos, entre os quais Irene Pimentel, Artur Pinto e eu próprio, a ele pertencemos. Mas este grupo “Personalidades” não teve nenhum papel na instalação do museu porque… nunca foi consultado.

O essencial, no entanto, e que muito nos regozija, é ter-se conseguido criar o Museu do Aljube, o museu da luta pela Liberdade. Mercê da decisão e contributo de todas as entidades referidas. Ficamos muito satisfeitos com a escolha do historiador Luís Farinha para director do museu, tendo em conta o seu currículo e o seu carácter.

Mantemos com a CML um bom relacionamento e estou certo de que o mesmo sucederá com o recém-empossado presidente do museu. Na medida das nossas possibilidades, procuraremos contribuir para o êxito do museu, que deverá ter um papel activo de preservação da memória da luta de muitos milhares de portugueses contra a ignomínia da ditadura, pela liberdade e pela democracia, na formação cívica da juventude e em particular dos jovens escolares.

Presidente da direcção do NAM

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