O momento de entrar

Neste ano de 2015, a julgar pelos dias e pelas noites até agora, Abril será o mês do primeiro banho.

É o tempo antes de entrar no mar. Não se sabe o dia quando. Parece sempre ser hoje, mas, no último minuto de consideração, não é.

Os passarinhos andam histéricos, transitando de árvore em telhado – e de telhado em árvore – como dançarinos da Coreia do Norte, perfeitamente sincronizados. É como se todos os amores fossem uma questão de coreografia.

Depois do Inverno mais doce desde que há memória espera-se uma Primavera tão parecida com o vindouro Verão que será preciso um meteorologista para distingui-los.

Tal como os meus amigos nadadores (o maior é o Nuno Pacheco), ligo muito à diferença entre a temperatura do ar e a temperatura do mar.

Convém que a temperatura do ar (do sol) seja, no mínimo, dois graus centígrados acima da temperatura do mar. Durante o Inverno a água do mar está mais quente do que o ar de quem se fica por terra.

Qual será o primeiro dia em que o mar esteja um frio que se aguente e o ar (e o sol), cá fora, estejam pelo menos mais dois graus para não tremermos e podermos secar-nos com um mínimo de indiferença e de cumplicidade?

Neste ano de 2015, a julgar pelos dias e pelas noites até agora, Abril será o mês do primeiro banho. Os mergulhos não contam. Um banho dura, pelo menos, 30 minutos e inclui o vencimento de séries violentas de ondas altas e imprevisíveis.

O momento de entrar no mar – e de deixar a terra onde vivemos – é um perigo emocionante e impossível de prever ou gerir onde ficamos, finalmente, bem.

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