Desterro em Timor – a saga da família Miranda

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Desterro em Timor - A saga da família Miranda José Pedro Lopes e Pedro Santasmarinas (imagem e edição), Ana Cristina Pereira, Adriano Miranda

A carestia de vida era desmedida. Desde 1919, as greves sucediam-se. No início dos anos 20, estourou a violência contra polícias, patrões e fura-greves. Na sequência de um atentado contra o director da polícia, uns 100 activistas foram detidos. Instaurada a ditadura, 64 foram deportados para Timor.

Simões de Miranda ia no navio

Pêro Alenquer

, que partiu de Lisboa em Abril de 1927 com deportados no porão. O desterro não foi tão terrível como temera: decidido a equilibrar a balança de pagamentos da colónia, o governador, Teófilo Duarte, decidiu fazer deles colonos. E o padeiro, então com 25 anos, recebeu um espaço, um forno e farinha para começar o seu próprio negócio.



Formou uma família – primeiro com Laura Ximenes, depois com a irmã dela, Áurea. Quando a II Grande Guerra chegou à ilha, já enviara os filhos mais velhos, Alice e José, para os avós paternos, em Aveiro. Com ele viviam o enteado, Marcelino, e os dois filhos mais novos, João e Manuel.



Muito pão da Padaria Europeia vendeu aos aliados, que desembarcaram em Timor em Dezembro de 1941, decididos a impedir que os japoneses usassem a ilha como base para atingir a Austrália. Morreu durante a invasão japonesa, deixando os dois filhos com apenas nove e cinco anos. Para lá dos confrontos, muitos morriam de fome e falta de assistência médica.



Depois de muitos meses a fugir no mato, Manuel e João foram resgatados por militares australianos e levados para um campo de refugiados na Austrália. No início de 1945, ainda antes do fim da II Grande Guerra, seguiram, via Moçambique, para Portugal, onde foram entregues à Casa Pia de Lisboa.



Houve reflexos em Aveiro. José cresceu com um forte sentimento de injustiça provocado pelo que acontecera ao pai e pelo que via à sua volta. Fez-se marceneiro, casou-se, mas nunca se esqueceu disso: aproximou-se do Partido Comunista Português e ainda foi preso pela PIDE em Fevereiro de 1963.



Em 2000, o fotojornalista Adriano Miranda visitou Timor, em reportagem para o PÚBLICO, e encontrou a padaria que pertencera ao avô destruída por acção de milícias, grupos armados pela Indonésia em 1998, que tanto lembram as colunas negras, os grupos armados pelos japoneses em 1942. Já então lhe pareceu que havia uma história que não era só sua, que não era só da sua família, que era uma história de resistência, que merecia ser resgatada e contada.



Revista%202">Este domingo, a revista 2 conta a história do padeiro Miranda cruzando depoimentos com cartas, registos da polícia portuguesa, ficheiros do Exército australiano, jornais, livros. Não é igual à que Adriano Miranda cresceu a ouvir a mãe e os tios a contar, porque o tempo prega muitas partidas à memória. 

 
 

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