Depois de duas mortes no sábado, largada de touros volta diariamente à Moita

Comissão de festas diz que há grandes investimentos no evento e que será preciso cumprir os contratos assinados. Acidentes mortais em largadas de touros não são inéditos em Portugal.

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Largadas de touros são a expressão máxima das festas da Moita Nelson Garrido

Apesar de a largada de touros inaugural das festas anuais da Moita ter feito duas vítimas mortais e cinco feridos na madrugada de sexta-feira para sábado, a avenida principal daquela cidade vai voltar a receber touros na segunda-feira à noite. A festa irá manter o programa inicial, incluindo as largadas diárias e touradas na praça, afirmam os coordenadores.

Já passava da uma da manhã de sábado quando os touros largados em pontas na avenida principal da Moita colheram, em momentos diferentes, dois homens que estavam na assistência. Três touros acossados por alguns milhares de pessoas que corriam pelo recinto e se refugiavam em cima de árvores ou atrás de barricadas improvisadas nas ruas. Entre eles estavam Vítor Varela, um trabalhador da construção civil de 46 anos, e José Liza, um estudante de 27 anos. O primeiro foi colhido por um dos animais que o atirou contra uma parede; o segundo terá, segundo diversos relatos, caído no recinto quando fugia de um touro, que acabou por investir contra ele.

Além de fracturas diversas, os dois homens sofreram também perfurações na zona do abdómen e tórax. Vítor Varela morreu a caminho do hospital. A morte de José Liza foi declarada no hospital do Barreiro após uma cirurgia.

Maria Clarisse Santos, da comissão coordenadora nomeada pela Câmara da Moita – que organiza os festejos –, lamentou os acidentes que vieram estragar o “espírito” dos festejos. Mas vincou que “a festa continua” e que o evento “é um grande investimento”, onde há “muito dinheiro” em compromissos já assumidos e “contratos feitos que têm que ser cumpridos”. Além disso, a população conhece os perigos inerentes às largadas e o espaço onde decorrem “é fechado” – por isso só lá entra “quem quer”.

“Vai continuar a haver largadas”, assumiu a responsável à reportagem da TVI e fez questão de salientar que na festa “há outras coisas a acontecer, como espectáculos musicais à noite, procissão religiosa [este domingo, com bênção dos barcos engalanados no cais da Moita], o fogareiro [uma tradição em que os moradores fazem churrascada nas ruas], corridas de touros”. De acordo com o programa, pelo menos mais oito largadas estão previstas entre os dias 15 e 21, sendo que mesmo nos dias úteis elas se realizam de manhã.

Touros largados sem protecção
Esta é a tradicional imagem de marca das festas de Verão na Moita, em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem: fecha-se durante dez dias boa parte da avenida Teófilo Braga, protegem-se com taipais, paletes de madeira e tábuas as portas, janelas, canteiros, bancos de jardim e até troncos de árvore. Nesta mega-arena improvisada, com alguma areia e palha pelo chão, largam-se dois, três ou quatro touros ao mesmo tempo no espaço, em pontas – isto é, sem qualquer protecção nos chifres –, e o que se segue depois são pelo menos duas horas de grande correria em torno dos animais.

A Câmara prevê que os festejos sejam acompanhados, durante os dez dias, por cerca de um milhão de pessoas. Na brochura de apresentação do programa das festas, o presidente da câmara, Rui Garcia, dizia que o evento é a “expressão secular da identidade cultural de uma terra e das suas gentes” – e a verdade é que para os habitantes a expressão máxima destas festas são as largadas.

Em blogues de aficionados houve quem lembrasse que as largadas são um espectáculo “perigoso e de grande emoção e risco”. E até quem mostrasse fotografias de uma jovem de 19 anos que ficou ferida com rasgos numa perna e uma rótula fracturada. Para além dos feridos, não são inéditos os acidentes mortais em largadas de touros em Portugal. Ainda há precisamente três meses um homem de 50 anos morreu na sequência de graves ferimentos provocados por um animal numa largada em Porto da Espada, no concelho alentejano de Marvão.

Primeiro touro abatido
Entretanto, a vila alentejana de Monsaraz viu um touro ser abatido numa arena improvisada com a autorização, pela primeira vez, da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC), sem que fosse preciso cobri-lo com um pano escuro, como tem sido hábito em anos anteriores. O animal foi abatido no final de uma novilhada popular, cuja organização reclama há muito o mesmo regime de excepção que foi atribuído a Barrancos e que permite o abate do touro no final do evento.
 

   

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