Contradições entre grafismo de títulos e conteúdo de notícias

Admito que, por vezes, a intenção da parte do jornal de recorrer a uma certa criatividade gráfica apelativa, leve os leitores a possíveis interpretações contraditórias. O que será de evitar.

Em relação à primeira página do PÚBLICO do último domingo (1/02/2015), um leitor alerta para o seguinte:

“É por vezes díspar a concordância entre capa e a notícia no PÚBLICO. Situações houve no passado em que parecia estar o jornal a fazer o favor a alguém (...) tamanha era a discrepância entre o que o jornalista escrevia e aquilo que o editor decidia imprimir na primeira página. Ora, acho eu, que não é só no conteúdo das peças jornalísticas que o provedor deve actuar, mas também na oportunidade e sensatez (veracidade?) de certos títulos escolhidos para a primeira página do jornal. Escolheu o seu editor para a primeira página de domingo o seguinte título: “António Costa e Rui Rio estão preocupados com risco do radicalismo.” Este título faz parte de um conjunto de títulos relacionados com as eleições na Grécia e com a recente manifestação em Espanha convocada pelo Podemos, que ilustra a capa com uma foto. Ora, parece que estamos perante uma ameaça radical (?) tal qual as ameaças de cariz ou base islâmica, mas com propósitos únicos terroristas. (...) No entanto, ao ler a peça de São José de Almeida sobre o que essas duas figuras disseram, fica-se com uma sensação de que o responsável pela capa (editor ou director?) pura e simplesmente quis extrapolar o conteúdo de um artigo dando-lhe um aspecto alarmista. Isso é o meu ponto de vista.” (...)

Comentário do provedor: Pedi um comentário à direcção, que disse: “Na nossa leitura, tanto António Costa como Rui Rio falaram nesse dia sobre a importância de a Europa encontrar soluções para a actual crise e deixaram mensagens claras sobre o modo como se poderá chegar a elas sem posições extremadas, ou seja, sem posições radicais. Eles fazem no fundo um apelo à capacidade de negociação e um elogio à moderação. E sublinham a necessidade de mudança, numa linha muito diferente do que é defendida pelo Governo.”

Deliberadamente trunquei os comentários do leitor (que me perdoará espero). Dei prioridade à chamada de atenção do leitor para a necessidade de evitar as dissonâncias entre títulos e conteúdo de textos e à atenção que a estas deve o provedor dedicar. Aceito a advertência. Admito que, por vezes, a intenção da parte do jornal de recorrer a uma certa criatividade gráfica apelativa leve os leitores a possíveis interpretações contraditórias — o que será de evitar.

A saúde dos portugueses e o PÚBLICO

O leitor que me deu azo às reflexões que introduzi na minha última crónica (1/02/2014), sob o título “A saúde dos portugueses e o Syriza”, escreveu-me a manifestar algumas discordâncias quer em relação ao texto, quer relativamente a respostas dadas no correio electrónico que trocámos. Muito especialmente, quando supostamente contrario a ideia de estar o PÚBLICO, objectivamente, a “proteger o ministro da Saúde” ou da imparcialidade nas notícias sobre o ministro e o ministério.

Procuro resumir o longo email do leitor, pois não se adequa ao espaço de que disponho. Todavia, não quero esconder a minha aceitação das suas discordâncias. Eu entendo que nunca a opinião do provedor é a última. É sempre retorquível. Mas, por outro lado, o leitor volta a salientar pontos importantes sobre este tema — a saúde e o Serviço Nacional de Saúde — tão quente e tão polémico na actual agenda política e mediática do país. Por isso, transcrevo aquelas considerações que me parecem pertinentes:    

“O caso das Urgências que eu apontei foi paradigmático. A onda contra o mau desempenho dos SU começava a avolumar--se e o PÚBLICO com aquele título choque quis desmoronar essa onda, torná-la localizada, causada pelos maus princípios dos médicos. Porém, a Verdade impôs-se e não foi possível esvaziar esta onda, que se via bem que era indesmontável. Neste contexto o PÚBLICO esteve muito mal, tentando dar uma interpretação errada para os casos que começavam a aparecer. E era uma situação óbvia. (...) Caro provedor, não pense que a Saúde está a melhorar, quando a taxa de mortalidade neste Inverno aumentou 25% em relação ao ano passado, e quando Portugal no Índice de Desenvolvimento Humano, medido pela Organização das Nações Unidas, passou da posição 23 para a 43.ª, nem quando o que se quer dizer com REFORMA do Estado é CORTES no Estado! (...) Nesta situação, com estes indicadores, acha bem que o numero de notícias favoráveis à Saúde seja igual às contra o estado da Saúde, acha que é isso a imparcialidade e a Verdade neste contexto? (...) Por favor comecem a pedir opiniões a especialistas independentes, ou então não publiquem nada!”
 

O avião KC-390 e a OGMA

Um leitor lamenta:

Um leitor lamenta: “Foi com enorme tristeza que li a seguinte notícia do PÚBLICO sobre o primeiro voo do KC-390:

http://www.publico.pt/economia/noticia/aviao-kc390-fez-primeiro-voo-1684944

É lamentável que não tenha sido referido nesta notícia que os três segmentos do avião em causa (sponson, lemes de profundidade e fuselagem central) foram fabricados na OGMA, S.A. em Alverca, sendo que a equipa desta empresa suportou o desenvolvimento a par do CEIIA e da Embraer.

Sendo a omissão de informação uma das três formas de mentir, o PÚBLICO fica muito mal na figura... Lamentável!”

Comentário do provedor:  Contactei a jornalista Lurdes Ferreira, que dá a seguinte explicação:

“O texto tinha um foco noticioso principal: é a primeira vez que o país participa na fase de engenharia de desenvolvimento  de um projecto aeronáutico. O texto, de pequena dimensão, visava dar conta desse momento.

Nesse sentido, não se nos afigurou obrigatório referir a OGMA. Num texto de maior dimensão, e com um olhar mais abrangente sobre o projecto, decerto que a OGMA teria lugar de destaque, tal como aconteceu na edição de 21 de Outubro de 2014.

A palavra “suportou”, referida pelo leitor, é ambígua. A engenharia de desenvolvimento de produto dos segmentos em causa foi totalmente feita pelo CEIIA e a manufactura totalmente feita pela OGMA. Em projectos desta natureza é normal  as áreas envolvidas interagirem entre si.”
 
 
Alcorão/Corão

Um leitor contesta a explicação que dei pelo uso corrente no PÚBLICO da referência ao Corão, em vez de Alcorão:
“Li, por acaso, a sua resposta à questão que lhe colocou um leitor, sobre o uso da expressão “Corão” por “Alcorão”.

O uso da expressão “Corão” poderá não ser impensado ou inculto, mas não deixa de ser incorrecto. A sua resposta, a meu ver, foi rápida de mais. E, de algum modo, pretensiosa na forma como recorre ao livro de estilo do PÚBLICO, invocando-o como autoridade no uso da língua. Melhor seria que consultasse um dicionário de língua portuguesa. Recomendo-lhe o Grande Dicionário de Língua Portuguesa de José Pedro Machado, onde verá, na entrada “Corão”, que “nada justifica o uso desta forma, nem a etimologia, nem a história do vocábulo em português; trata-se, para mais, de um galicismo. Use-se, pois, única e exclusivamente Alcorão. E, de caminho, poderá promover a correcção do Livro de Eilo do PÚBLICO.”

Comentário do provedor: Efectivamente não consultei o dicionário de José Pedro Machado. Consultei outros de uso corrente. Referi o Livro de Estilo do PÚBLICO para simplesmente aduzir uma explicação pelo facto de os jornalistas do PÚBLICO utilizarem a palavra “Corão”. Melhor seria, pelo menos mais aconselhável, reconheço, deixar esta discussão para os linguistas. Desculpe-me, mas não vou ter a pretensão de mandar corrigir o Livro de Estilo do PÚBLICO. Vou ter maior cuidado, isso sim, de quando aparecerem estes diferendos linguísticos deixar para os especialistas o seu tratamento. E não ser tão rápido a responder.

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