Bolsas de mobilidade podem ser solução para levar alunos do superior para o interior

Programa não implicará alterações no sistema nacional de acesso ao ensino superior.

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As escolas recusam perder verbas para o ensino superior Paulo Pimenta

O Governo está a estudar a criação de um programa de bolsas de mobilidade para estudantes nacionais destinado a convencer jovens da regiões do litoral a irem estudar nas instituições de ensino superior do interior. A medida foi descrita pelo secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes, como uma das soluções para levar mais alunos para essas regiões do país, durante um debate sobre o sector organizado pelo Sindicato Nacional do Ensino Superior (Snesup), esta quinta-feira, em Castelo Branco.

Ferreira Gomes revelou que a possibilidade de criação de um programa de bolsas de mobilidade interna tem vindo a ser discutida com as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional e deverá ser baseada em financiamentos comunitários. Além do incentivo financeiro, o Governo antecipa a criação de um programa de comunicação que possa ser capaz de divulgar “junto de todas as famílias de Lisboa e do Porto” que há boas instituições de ensino superior em vários pontos do interior, defende o governante.

“Nessas regiões, a vida é mais agradável e até se passa menos tempo no metro e no autocarro, ficando mais tempo para nos divertirmos”, sustentou o secretário de Estado do Ensino Superior, ensaiando os argumentos dessa campanha de divulgação. José Ferreira Gomes recusou, porém, a ideia de que este programa venha a implicar alterações no sistema nacional de acesso ao ensino superior, que possa introduzir algum tipo de discriminação positiva para as instituições de ensino superior. “Não há qualquer intenção de abandonar o sistema de vagas”, sublinha.

Este novo programa é visto pelo governante como uma das soluções para os problemas do sector nestas regiões. A falta de alunos foi uma das realidades várias vezes enfatizadas pelos vários participantes do debate sobre as políticas de ensino superior no interior do país. Durante esse encontro, o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, Joaquim Mourato, classificou a medida como “excelente”, mas entende que ela não vai resolver quaisquer problemas sem “outras medidas de discriminação positiva”. O reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, António Fontaínhas Fernandes, também elogia a proposta da tutela, mas lembra que não basta atrair estudantes. “É também preciso fixá-los e isso só se faz criando emprego”, sustenta, defendendo a criação de programas de competitividade regionais destinados a pequenas e médias empresas.

O secretário de Estado reconheceu também que tem necessidade de defender, em alguns locais, a necessidade de manter as instituições de ensino superior no interior do país. “Ouço que há instituições que estão em dificuldades e que o melhor é esquecê-las, que assim resolvemos os problemas do país e ainda poupamos uns trocos”, confessou. O governante recusa, porém, esse discurso e defende a ideia de que o país ainda tem necessidade de expandir o acesso ao ensino superior.

Portugal parece viver com a ideia de que o ensino superior no interior “é um problema para o país”, avalia o presidente do Instituto Politécnico de Bragança, Sobrinho Teixeira, mas as dez instituições do interior representam apenas 17% da oferta formativa do sector, tanto quanto a nova Universidade de Lisboa, nascida da fusão da Clássica e da Técnica. “Não parece que isso seja um fardo para o país”, sustenta. Já o presidente do Snesup, António Vicente, defende a necessidade de, qualquer que seja o caminho para a reorganização do ensino superior que está a ser preparada, não ser aceitável “um interior com instituições de segunda, sem investigação, nem ciência”.

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