A revolução de cada um

À medida que envelheço, torno-me cada vez mais ingrato. O egoísmo nunca fez mal ao ego de cada um.

Este Verão vou ter 60 anos pela primeira (e, mais deprimentemente ainda, pela última) vez na minha vida.

Hoje é o dia 25 de Abril. No dia 25 de Abril de 1974, eu tinha 18 anos e estava em Évora, chumbado por faltas no curso de Sociologia Entre Aspas da Pseudo-Universidade do Templo de Diana, administrada por jesuítas especializados em Direito Natural, que é aquele que nos é dado directamente por Deus nosso senhor com o update arrogante de São Tomás de Aquino.

É óbvio que estou a mudar e a inventar alguns nomes para proteger os inocentes, a começar por mim. Apesar da revolução, tivemos aulas até ao fim da tarde.

Noutros vinte-e-cincos de Abris (que já não são poucos) celebrei a liberdade que nos deram. Sim, deram. Só a restituíram aos nascidos 20 anos antes de 1928: aos que tinham 66 anos ou mais. Sim, não eram tão poucos como pensamos.

Mas, à medida que envelheço, torno-me cada vez mais ingrato. O egoísmo nunca fez mal ao ego de cada um.

É por isso que neste aniversário do 25 de Abril lembro-me, acima de tudo, de mim. Tinha medo de fazer 19 anos porque 19 anos levariam, inevitavelmente, aos 20...

Todas as datas dependem, afinal, do dia e do ano em que nascemos. A bendita e libertadora revolução de Abril fez homens e mulheres livres de todos nós. Quer dizer: pelo menos tentou.

A passagem do tempo (a distância do dia em que nascemos, mais do que a proximidade da nossa morte) não ajuda. Nem sequer atrapalha. Só esclarece. E bem.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários