“A Internet pode ajudar o jornalismo a ser mais profundo e mais sério”

Jornalistas, realizadores e académicos de Portugal, EUA, Espanha e Holanda reúnem-se em Lisboa para debater “o regresso do jornalismo”.

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Conferência conta com a participação de quatro jornalistas do PÚBLICO Enric Vives-Rubio

O objectivo é mesmo provocar – diz o jornalista do PÚBLICO Paulo Moura, coordenador da conferência internacional, que pretende levar centenas de estudantes, jornalistas e “todos que acreditam no jornalismo” à Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa. “Há quem pense que o jornalismo está superficial e vai desaparecer por causa da Internet, nós queremos justamente mostrar o contrário que o jornalismo pode ser ainda mais profundo e mais sério com as ferramentas que a tecnologia trouxe”.

Estarão em Lisboa, desta sexta-feira até domingo, além de jornalistas e directores dos media portugueses, jornalistas e especialistas de vários países, principalmente dos EUA onde há mais novas experiências envolvendo os jornalismos narrativo e literário na Internet, que, segundo Paulo Moura, “quando aplicados ao formato digital, podem abrir enormes possibilidades”.

Mark Kramer – que fundou o programa para jornalismo narrativo da Fundação Nieman, na Universidade de Harvard – vem a Lisboa falar sobre jornalismo literário e não tem dúvidas de que o género tem um importante papel a desempenhar na realidade digital. Agora e no futuro. “Não importa qual é a tecnologia”, diz ao PÚBLICO. “O jornalismo literário pode ser muito, muito preciso e até mais informativo [do que o jornalismo comum], mantendo a integridade e a autenticidade.”

“A brevidade [dos artigos] não importa”, continua. “Quando se diz que o jornalismo online deve ser feito com textos curtos, é com base na ideia de que é desconfortável ler textos longos no computador. Mas já é mais confortável no iPad. E ainda mais no Kindle.” Para o escritor residente na Universidade de Boston, a tecnologia está a ajudar a esbater as diferenças entre os diferentes suportes em que se tem feito jornalismo – e assim vai continuar.

Kramer já publicou no New York Times, na National Geographic ou na Atlantic Monthly, mas sublinha que é dos títulos mais pequenos e independentes que tem vindo muita da inovação. “É simplesmente impressionante” a quantidade de novos títulos a fazê-lo, juntamente com alguns dos maiores e mais importantes jornais do mundo. É também por isso que acredita que o jornalismo literário, sobretudo o que é feito através de narrativas multimédia, será lucrativo.

Amy O’Leary, do The New York Times, é outro dos nomes internacionais da conferência, que conta com 36 oradores e se divide sete mesas redondas e 14 conferências. O tema de abertura são as novas fronteiras do jornalismo digital.

“Quando havia escassez de boa informação no mundo (e um vasto público sedento dela), o jornalismo parecia ser uma indústria muito segura, com um futuro risonho”, diz Amy, em declarações ao PÚBLICO. “Chegados a este ponto da história humana, estamos a consumir mais media do que alguma vez aconteceu. Agora, o jornalismo tem de competir com muitas outras formas de entretenimento e informação pela atenção e pelo tempo do público. A surpresa pode ser uma excelente maneira de captar a atenção de alguém e de a manter”, adianta a jornalista, que vai também encerrar os três dias de debate respondendo à pergunta de como tornar o jornalismo viciante.

À procura do "grande jornalismo"
Estarão ainda em Lisboa para a conferência o director-adjunto do jornal espanhol El País, Borja Echevarría, o editor-executivo do The Atavist, Charles Homans, o jornalista Joshua Hammer, que depois de 18 anos na Newsweek colabora agora com a New Yorker ou a Atlantic, o realizador Travis Fox, que foi o primeiro produtor de vídeo para a Web a ganhar um Emmy, e a directora da Iniciativa para Jornalismo Narrativo na Holanda, Paulien Bakker.

O rol de jornalistas e especialistas portugueses é mais extenso e inclui Adelino Gomes – que falará sobre o “jornalismo eterno” –, os repórteres Cândida Pinto e Jorge Pelicano (SIC), o jornalista João Paulo Baltazar (fundador da TSF) o fotojornalista João Pina (The New York Times, The New Yorker, Time…) e os autores do projecto Estrada da Revolução, que venceu no ano passado o Prémio Gazeta Multimédia – Tiago Carrasco, João Henriques e João Fontes.

António Granado (Universidade Nova de Lisboa, RTP), Fernando Zamith (Universidade do Porto, Lusa), João Canavilhas (Universidade da Beira Interior) traçam, ao final da manhã de sábado, o estado da arte do jornalismo digital em Portugal.

Simone Duarte, directora executiva online do PÚBLICO, vai debater os modelos para o jornalismo digital em Portugal, na manhã de domingo, com o director das novas plataformas do grupo Impresa, Henrique Monteiro, o director da TVI, José Alberto de Carvalho, e o director-adjunto de informação da Renascença, Pedro Leal.

A conferência conta ainda com a jornalista Alexandra Lucas Coelho, cronista do PÚBLICO, que logo no primeiro dia tentará responder à pergunta “Somos Todos Repórteres?”, e com a jornalista do PÚBLICO Vera Moutinho, que se junta na manhã de domingo a Amy O'Leary, Joana Pontes e Charles Homans para discutir se são os meios que estão ao serviço da história ou a história ao serviço dos meios. Susana Moreira Marques e Catarina Fernandes Martins, colaboradoras habituais do PÚBLICO, também estão no programa – a primeira logo no debate de abertura, sobre textos longos na era digital, e a segunda sobre a formação do jornalista do futuro, na mesma manhã, com Vera Moutinho, Adelino Gomes e Filipa Subtil.

O debate não termina no domingo. O PÚBLICO começa uma série de reportagens sobre os desafios dos jornais na era da Internet ainda em Novembro.

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