A educação da juventude

No meio da sua preocupação com o bem-estar dos portugueses (que, aliás, morrem no desemprego e na miséria) e do seu amor ao viçoso crescimento da nossa querida juventude, o Estado permite a ascensão e a influência das “mocidades” partidárias.

O Estado, na sua qualidade de educador, resolveu agora proibir a venda de bebidas alcoólicas (de qualquer espécie) a menores. Já era proibido vender tabaco a crianças. Para não falar de drogas que são universalmente ilegais.

Claro que a eficácia desta medida é discutível: em casa não se pode verificar quem bebe o quê e quanto. Fora que há sempre o mercado negro ou um amigo ou irmão maior que abastece os mais miúdos. Mas não deixa de ser verdade que o mais pequeno obstáculo diminui o consumo e que, neste caso, o fim é meritório. A dependência do álcool não se adquire depressa (“too much, too often, too long”) e atrasar ou dificultar o processo contribui para uma população mais saudável e segura. Uma vez que por várias razões as famílias não educam os filhos, medidas como estas acabam por se justificar.

Em compensação, proibir o fumo em locais públicos fechados — como, por exemplo, restaurantes, cafés, bares, discotecas, casas de jogo e sítios semelhantes frequentados geralmente por adultos não passa de uma restrição à liberdade individual, sem desculpa ou atenuante. O fumo, como nos lembram em toda a parte, a todo o tempo, é uma actividade perigosa. De acordo. Só que daí não se segue que um cidadão, na posse das suas faculdades, se veja impedido de correr os riscos que bem lhe apetecer, ainda por cima por um Estado que não cumpre os seus deveres mais básicos. Principalmente quando não existem riscos para terceiros, porque a maioria dos locais públicos fechados não admite hoje fumadores. A nova lei contra o fumo que por aí se anuncia não passa de um acto de uma prepotência mesquinha.

Pior ainda: no meio da sua preocupação com o bem-estar dos portugueses (que, aliás, morrem no desemprego e na miséria) e do seu amor ao viçoso crescimento da nossa querida juventude, o Estado permite a ascensão e a influência das “mocidades” partidárias. Um menor está impedido de comprar tabaco, de beber álcool, de se casar sem a autorização dos pais. Desde os 14 anos não está, em contrapartida, impedido de escolher qual o regime que melhor convém à sua doce pátria e as políticas mais capazes de a salvar e modernizar. Para essas actividades menores, nem o Governo, nem os partidos o consideram irresponsável ou inepto. Depois de beber o seu leitinho ou a sua limonada sob a vigilância da polícia e provar (com testemunhas) que nunca comprou um único cigarro, a criancinha irá daqui em diante pastorear o povo no exercício dos seus plenos direitos.

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