Insensibilidade

"O importante é ser empregável" dizia alguém que não importa num suplemento do último Expresso. É uma frase mentirosa, cruel, injusta e oportunista.

Não consegui ler mais do que isso. Quando me irrito evito irritar-meainda mais. Fujo para outra coisa. Ou penso que fujo. A frase
ficou-me. É igualmente trivial que o importante (não) é ser
escrevível.

Não havendo senão uns poucos empregos - havendo muitos desempregados -florescem os cursos de formação. E para quem, mesmo depois de ter
frequentado e pago cursos de formação, não consegue arranjar trabalho
(quase toda a gente), ainda há os cursos para formar formadores.

A exploração descarada dos internos (leia-se: as pessoas com famíliassuficientemente endinheiradas e patrocinadoras para estarem um ano
inteiro a trabalhar de graça) já está a perverter os mercados de
trabalho dos países europeus mais ricos, excluindo as classes sociais
pobres, remediadas e auto-suficientes. A dita mobilidade social nem
sequer tem os dias contados: acabou.

O importante não é ser empregável: é viver bem. Ou, pelo menos, menosmal. No mínimo é poder sobreviver sem passar mal. Não ser empregável é
mais importante ainda do que ser empregável. Esta evidência é tão
óbvia que contradizê-la é o mesmo que dizer que "mais vale ser-se
educado, jovem, rico, saudável e feliz à procura de emprego do que ser
analfabeto, velho, pobre, doente e deprimido sem hipótese nenhuma de
arranjar um emprego".

Empregável é a tua tia.

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