Venda de remédios contra défice de atenção em alta

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O pico das vendas acontece no início e meados do período escolar ADRIANO MIRANDA

O medicamento mais barato usado sobretudo por crianças com défice de atenção está esgotado desde meados de Abril

Em Janeiro passado registou-se o maior pico de venda dos medicamentos utilizados no tratamento do défice de atenção e da hiperactividade. Segundo dados da consultora IMS Health, foram vendidas 24.363 embalagens, o maior valor mensal desde que, em 2004, estes medicamentos começaram a ser vendidos em Portugal. Nesse primeiro ano, o total de embalagens disponibilizadas não ultrapassou as 40 mil.

Desde então, a venda dos medicamentos que têm como princípio activo o metilfenidato não parou de subir. Em 2011 foram vendidas quase 197 mil unidades, um aumento de cerca de 30% por comparação a 2009. O metilfenidato é um psicoestimulante, do grupo das anfetaminas, que actua ao nível do sistema nervoso central. É comercializado com os nomes de Ritalina, Concerta e Rubifen. Este último, produzido em Espanha, encontra-se esgotado nas farmácias portuguesas desde meados de Abril. Dos três é o mais barato.

Com base em indicações fornecidas pelo laboratório que comercializa o Rubifen, a ruptura de stock deveu-se a uma mudança de distribuidor e a autoridade que regula o sector do medicamento (Infarmed) indicou que se prevê a sua reposição a partir de 1 de Junho. Em declarações ao PÚBLICO, o neuropediatra Nuno Lobo Antunes, responsável pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil (Cadin), em Cascais, considerou que a ruptura de stock é "maçadora" e pode causar "alguns problemas", mas refuta que este possa ser descrito como um "momento dramático" para as crianças com défice de atenção.

Em declarações à agência Lusa, o pediatra Miguel Palha, que dirige a Clínica Diferenças, em Lisboa, tinha denunciado que a falta do Rubifen estava a empurrar as crianças que habitualmente tomam este medicamento para "o insucesso escolar e até a reprovação".

Lobo Antunes relativiza, lembrando que existem substitutos no mercado que podem ser utilizados temporariamente pelas crianças habitualmente medicadas com Rubifen. "Ainda não tivemos queixas de pais", assegura Linda Serrão, presidente da Associação Portuguesa da Criança Hiperactiva.

Os três medicamentos que têm como princípio activo o metilfenidato resultam de formulações diferentes que incidem no tempo de duração da sua acção. O Rubifen é o que tem um tempo de acção mais curto (três a quatro horas), uma das razões porque é pouco utilizado no Cadin. O mesmo não sucede na clínica de Miguel Palha. À Lusa o pediatra indicou que está a receber diariamente entre 100 a 200 pedidos de substituição de receitas do Rubifen. Segundo este clínico, é necessária uma adaptação do medicamento à criança, de forma a encontrar a "fórmula certa", pelo que esta situação poderá redundar num "grave prejuízo". A administração destes medicamentos a crianças tem gerado polémica em muitos países.

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