PSD ensaia abstenção no inquérito ao caso PT-TVI

Vai ser uma contagem deputado a deputado, mas as contas já começam a ser feitas. E o cenário de "chumbo" do relatório do inquérito à tentativa de compra da TVI pela PT, do deputado do Bloco de Esquerda João Semedo, vai ganhando força no Parlamento.

O PSD remeteu-se ontem ao silêncio - apenas anunciando que não iria propor alterações ao texto apresentado pelo Bloco e que fará uma declaração de voto, a ser redigida por Pacheco Pereira, até sexta-feira, dia em que a comissão de inquérito se reúne. A abstenção laranja é um quadro admitido, mas a posição só será analisada esta semana pelos deputados, depois da análise às 250 páginas do relatório que concluiu que o primeiro-ministro não disse a verdade aos deputados a 24 de Junho de 2009 ao declarar nada saber sobre o negócio. A principal consequência dessa abstenção seria o "chumbo" do relatório.

O PÚBLICO sabe que membros da direcção de Pedro Passos Coelho consideram frágeis as provas a que João Semedo chegou - o que abre caminho à abstenção social-democrata. O próprio líder do PSD repetiu este fim-de-semana que deve haver consequências se os factos apurados pela comissão de inquérito incriminarem o Governo. Ou seja, a moção de censura que Passos admite desde a corrida à liderança.

Além do mais, na sexta-feira, dia em que foi apresentado o relatório, Pedro Duarte, também do PSD, afirmou que a "comissão não foi tão longe quanto deveria ter ido". Em causa estão as escutas do processo Face Oculta enviadas à comissão e consultadas por Pacheco e João Oliveira (PCP), e que, segundo o juiz de instrução António Costa Gomes seriam essenciais para "perceber" o caso TVI. Ora, essas transcrições não puderam ser utilizadas pelo relator - uma decisão que abalou as relações do PSD com Mota Amaral, presidente da comissão.

As escutas estiveram ontem no alvo do PS, que hoje apresentará propostas de alteração ao relatório. O deputo Ricardo Rodrigues anunciou, em conferência de imprensa no Parlamento, que uma dessas propostas é a eliminação de "todas as referências" às escutas. Referências que, garantiu o BE, só existem para dizer que as escutas existiram, segundo o deputado José Gusmão. Além do mais, o PS insistiu que não foram feitas provas de que Sócrates mentiu e acusou João Semedo de chegar a conclusões "absurdas, enviesadas e manipuladoras". Hoje, data em que termina o prazo para a entrega de propostas de alteração ao relatório, o CDS não deverá apresentar nenhuma. O PCP também manteve reserva quanto à matéria. Nuno Simas

Sugerir correcção