INEM demora meia hora a activar ambulância em mais um caso que acabou por ser fatal

Instituto pede à população que utilize a Linha Saúde 24 se tiver dúvidas que não sejam emergências

Jovem de 14 anos morreu após uma paragem cárdio--respiratória quando jogava basquetebol na escola
a O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) justificou ontem com o aumento do volume de chamadas o facto de ter demorado meia hora a activar uma ambulância para responder a uma emergência - um pedido de socorro que terminou na morte de um adolescente de 14 anos. O instituto diz que os picos sazonais são normais e que, nessas alturas, reforça as equipas, mas reconhece que existem limitações físicas e que "há sempre constrangimentos".
As síndromes gripais são uma das razões que explicam o aumento das chamadas do número nacional de so-
corro, que está vocacionado para responder a situações de emergência. Por isso, o INEM alerta a população pa-
ra nestes casos utilizar a Linha de Saúde 24 (808 24 24 24), onde se ti-
ram dúvidas e se encaminham doentes para os estabelecimentos de saúde mais indicados.
Na passada quinta-feira, o 112 reencaminhou uma chamada para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) de Lisboa e Vale do Tejo às 17h52. Dava-se conta de um aluno da Escola Secundária Jorge Peixinho, no Montijo, que caiu inanimado durante uma aula de Educação Física. O operador percebeu a gravidade da situação e deu ordem para uma activação imediata da ambulância. "A triagem foi feita de forma correcta", garante Hugo Catorze, coordenador do CODU de Lisboa.
Mas como as ordens de activação eram muitas, o caso foi-se atrasando. "Às 18h11 recebemos outra chamada onde percebemos que a criança estava em paragem cárdio-respiratória e demos indicações para começarem a fazer-lhe manobras de reanimação. Foram dadas novas indicações para que a activação fosse ainda mais pri-
oritária", continua Hugo Catorze. Contudo, apenas dez minutos mais tarde é que se tentou activar uma ambulância, através de um contacto para os Bombeiros Voluntários do Montijo feito às 18h21. Nessa altura, já a escola contactara a corporação que transportava o aluno para o Hos_
pital do Montijo. "Chegámos ao hospital às 18h24", precisa o adjunto do comando, Luís Carvalho. Antes, os bombeiros tinham confirmado a paragem cárdio-respiratória e feito manobras de reanimação. Alguém da escola tinha-os contactado em desespero, depois de esperar mais de 20 minutos pelo INEM.
Desde que os bombeiros receberam a chamada até que deixaram a criança no hospital somaram-se apenas nove minutos, o tempo que o socorro podia ter demorado não fosse o atraso do INEM. Mas desde a chamada para o 112 até ao hospital, onde o jovem encontrou a resposta médica, passaram 36 minutos. "Só não chegámos mais cedo porque ninguém nos chamou", lamenta Luís Carvalho.
Hugo Catorze reconhece que o tem-
po da activação foi "inadequado" mas justifica-se com o volume de ch_
amadas. "No CODU de Lisboa recebemos por dia uma média de 1500 chamadas; nestas últimas duas semanas temos recebido mais 300 a 400 por dia", refere. O médico diz que nes-
se dia a equipa começou com 12 operadores (alguns faltaram), menos dois que o mínimo considerado aceitável, e acabou com 16. "O máximo que podemos ter e, uma pessoa fica a trabalhar de pé, é 17 operadores", explica. Mas quando o volume das chamadas aumenta geram-se sempre constrangimentos, reconhece.
Ninguém pode dizer que o jovem morreu por causa do atraso, mas ficará para sempre a dúvida.

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