EDP vai convidar arquitectos com o Pritzker a projectar as centrais das novas barragens

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Souto de Moura gostaria de ter maior intervenção no projecto do Tua Adriano Miranda

Souto de Moura desenhou um edifício "invisível" para a barragem já em construção na Foz do Tua. O arquitecto não quis "comprar guerras" com o património

Eduardo Souto de Moura é o primeiro de vários arquitectos de todo o mundo com o prémio Pritzker (a maior distinção nesta disciplina) a ser convidado pela EDP a projectar o edifício de uma central do novo plano de barragens. O segundo português distinguido com este prestigiado prémio (2011) apresentou ontem, no Porto, o seu projecto para o aproveitamento hidroeléctrico da barragem da Foz do Tua, na sequência do convite que lhe foi feito em Outubro.

Álvaro Siza (Pritzker 1992) foi ontem desafiado pelo presidente da EDP, António Mexia, a associar-se também a este plano. Mas a empresa não divulgou o nome da barragem que foi proposta ao primeiro Pritzker português, e deixou para mais tarde o anúncio dos arquitectos estrangeiros que serão convidados a trabalhar no país.

O projecto de Souto de Moura para o Tua surpreendeu a vasta plateia de quadros da EDP e de autarcas da região duriense que assistiu à sua revelação na sede da empresa. No lugar para onde a EDP tinha inicialmente previsto um edifício de grande volumetria, Souto de Moura dissimulou um equipamento onde apenas será visível à superfície, "como um motor" sobre uma única plataforma, o complexo de apoio à barragem.

Na apresentação do projecto, o autor do projecto do Estádio de Braga citou esta obra para explicar como o novo edifício vai ser enterrado na colina da montanha. Mas, no final, a superfície "natural" e o equilíbrio paisagístico serão repostos com uma cobertura de granito e a plantação de oliveiras. Debaixo do chão ficarão a central propriamente dita e também a parte social, com aberturas para o exterior através de portas de chapa, que o tempo e a ferrugem se encarregarão de integrar na paisagem, e também de uma ampla janela sobre o rio.

"O edifício não está escondido, nem eu tenho vergonha de mostrar o que faço, está é dissimulado através de um código diferente", disse o arquitecto, respondendo a uma pergunta sobre se não teria sido preferível que tivesse apostado num edifício bem visível e bem marcado sobre a paisagem. E justificou a sua opção por não ter querido "comprar guerras", numa referência às dúvidas que a Unesco manifestou quanto ao impacto da construção da barragem na zona de protecção do Douro Património Mundial. "Eu gosto de barragens, são peças lindíssimas", disse Souto de Moura, acabando por confessar, ao lado de António Mexia, que gostaria de poder ter uma intervenção mais ampla no Tua. "Os arquitectos são megalómanos, querem recriar o mundo", disse, notando que gostaria de "responder ao problema paisagístico global, desde o puxador da porta à paisagem".

Mexia lembrou que o Tua, à imagem do que aconteceu em Bemposta (Pedro Cabrita Reis) e em Picote (Pedro Calapez), será alvo de uma intervenção artística, e o mesmo acontecerá com as outras novas barragens da EDP. "Este circuito de arte pública nas barragens é uma inovação mundial" e com ele Portugal pode reforçar a sua afirmação no plano internacional, disse o presidente da EDP.

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