Deputado Vítor Baptista implica secretário de Estado em alegada tentativa de suborno

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Vítor Baptista quer repetição das eleições para o PS/Coimbra SÉRGIO AZENHA

Parlamentar socialista pede demissão de André Figueiredo, secretário nacional e chefe de gabinete do líder do PS

Depois da publicação, em dois jornais de Coimbra, de um artigo no qual acusa André Figueiredo, secretário nacional adjunto do PS, de lhe ter oferecido um lugar numa empresa pública, o deputado socialista Vítor Baptista pediu ontem a demissão de Figueiredo, também chefe de gabinete do secretário-geral do partido. "[André Figueiredo] não tem condições políticas" para se manter no Secretariado Nacional, "não tem isenção, nem honorabilidade", afirmou Baptista, que perdeu no passado fim-de-semana a presidência do PS/Coimbra (Mário Ruivo venceu por dois votos).

À Lusa, Figueiredo desvalorizou: "Sinto-me perfeitamente tranquilo e com a noção de dever cumprido, pois sempre pautei as minhas atitudes por princípios de transparência, rigor e isenção", disse. E admitiu vir a accionar um processo judicial contra Vítor Baptista, caso entenda que foi alvo de "difamação, falsidades e injúrias".

Mas o parlamentar foi mais longe: implicou o secretário de Estado adjunto das Obras Públicas, Paulo Campos, na alegada tentativa de provocar o seu afastamento da federação socialista. "Há coincidências", disse, referindo que Campos e Figueiredo associaram-se para operar aquilo que designou como "tramóia". As divergências entre Baptista e Campos não são novas. O mais recente diferendo aconteceu quando o secretário de Estado, em entrevista ao Diário de Coimbra, acusou o deputado de "dividir para reinar" no PS/Coimbra. "Vítor Baptista não tem políticas à altura de José Sócrates", explicou.

A "tramóia" em causa terá consistido numa sugestão de Figueiredo para Baptista ocupar um "lugar de gestor público no Metro, na CP ou na Refer, com um vencimento de 15 mil euros mensais", escreveu o deputado no artigo, intitulado Na calada da noite. Em troca, teria de abdicar da sua recandidatura à presidência do PS/Coimbra. A publicação do texto aconteceu depois de Baptista ter sido derrotado por Mário Ruivo nas eleições federativas, no passado fim-de-semana.

Mal encerraram as urnas, o deputado, que se candidatava a um quarto mandato, alegou irregularidades. "A tramóia passa por emitir mais de meio milhar de papéis, fotocópias, designados "gestão de quotas" e que gestão! Sem numeração, a que pretendem chamar recibo de pagamento de quotas de militantes, esquecendo os requisitos legais para a emissão de facturas ou recibos", explicou. "Para o pagamento de quotas é preciso cumprir o Regulamento de Quotas, e este não prevê a possibilidade de pagamento colectivo", acrescentou.

O episódio foi ainda comentado pelo líder do CDS, Paulo Portas, no debate quinzenal com o primeiro-ministro. Portas pediu a José Sócrates uma reacção às acusações de Baptista, mas o primeiro-ministro não respondeu. Fê-lo mais tarde, contudo. À saída do hemiciclo, afirmou que a direcção do partido "nunca se mete nas questões de eleições internas das federações". Mas, logo a seguir, tentando encerrar a polémica e enviando um recado implícito para Baptista, disse: "Aconselho todos os dirigentes e militantes do PS a saberem ganhar e saberem perder."

Ontem, à hora de fecho desta edição, prosseguia uma reunião da Comissão Nacional de Jurisdição do PS, que, face à intenção de Baptista de repetir as eleições em Coimbra, terá decidido que apenas os órgãos nacionais têm capacidade estatutária para convocar actos eleitorais nas distritais. Entretanto, o PSD exigiu uma investigação criminal do caso. "O Estado não pode ficar cego, surdo e mudo a esta denúncia do titular de um órgão de soberania, ainda por cima tratando-se de um crime de tráfico de influências, que é um crime público", afirmou Fernando Negrão. "É fundamental que a Procuradoria-Geral da República abra um inquérito crime e investigue". com N.S. e L.B.

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