“Vivemos o período mais sombrio desde o fascismo”, afirma Jerónimo de Sousa

No arranque da Festa do Avante!, o líder do PCP anunciou a compra da Quinta do Cabo, contígua ao espaço onde decorre o evento, e anuncia uma campanha de recolha de fundos.

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Jerónimo de Sousa esteve em Almada com Joaquim Judas MIGUEL MADEIRA/ARQUIVO

“Vivemos o período mais sombrio desde o fascismo”, disse esta sexta-feira à tarde Jerónimo de Sousa, no discurso de inauguração da 38º Festa do Avante!, que decorre até ao próximo domingo no Seixal.

Na sua intervenção, o secretário-geral dos comunistas portugueses fez um balanço muito crítico dos últimos três anos, desde o início da intervenção da troika, em 2011.

“Foram três anos a cortar nas reformas, nas pensões, na saúde, na educação, a aumentar a pobreza e com a sangria da emigração”, considerou Jerónimo. O dirigente comunista continuou: “Foram três anos de escândalos nos bancos e no sistema financeiro, com o Governo a injectar, directa ou indirectamente, milhares de milhões sacados aos reformados e aos trabalhadores.” Neste ponto, garantiu: “O empréstimo da troika foi para salvar o sistema financeiro.”

Jerónimo de Sousa, perante os aplausos dos militantes, lançou duros ataques ao Governo de Pedro Passos Coelho: “Diz o Governo que só fez metade do caminho, se isto é só metade, imaginem o que eles pretendem.”

O secretário-geral do PCP apelou, também, à luta contra o Governo. “Cada vez mais se justifica a luta pela demissão do Governo, encurtando-o num mês que seja ou em 24 horas que sejam, para travar este caminho desastroso e encetar uma política patriótica e de esquerda”, referiu.

Na sua intervenção, por duas vezes o dirigente do PCP referiu-se, de forma e em tom críticos ao PS. No início, quando abordou os três anos de “intervenção estrangeira”, recordando que o memorando da troika foi negociado pelo Governo de então, liderado por José Sócrates. “Não pode ser apagada a responsabilidade do PS”, proclamou.

Mais à frente, quando apelou a uma política diferente da actual, que definiu como “patriótica e de esquerda”, fez o contraponto com as propostas dos socialistas. “Políticas de toques e retoques como quer o PS, seja o de Costa ou Seguro”, criticou.

PCP compra Quinta do Cabo por 950 mil euros
Por fim, Jerónimo de Sousa anunciou a compra da Quinta do Cabo, terreno contíguo à Quinta da Atalaia,” o que permite aumentar em mais de um terço a área do recinto da Festa do Avante! e alargá-la à baía do Seixal.” Uma iniciativa que o líder do PCP definiu como “audaciosa, porque afirma a nossa autonomia face ao Estado.”

Os sete hectares contíguos à Quinta da Atalaia, no Seixal, foram adquiridos por cerca de 950 mil euros, prevendo uma campanha de angariação de fundos para pagar.

"Lançaremos uma campanha porque é preciso assegurar o seu pagamento completo, dirigindo-nos aos militantes e amigos do partido, aos amigos da Festa do Avante!, aos democratas e patriotas, apelando para criar as condições para uma festa ainda maior e melhor", afirmou Jerónimo de Sousa.

O líder do PCP lembrou o histórico dirigente Álvaro Cunhal e o seu anúncio, há 25 anos, no 13.º evento comunista do género, então em Loures, da compra da Quinta da Atalaia, citando as suas críticas de então sobre "o jogo indigno de Governos e outras entidades de cederem temporariamente terrenos abandonados, cheios de mato e pedras, com a esperança de nos verem afundar-nos neles".

"Surgiu finalmente a oportunidade, que não podíamos desperdiçar, de concretizar essa aspiração de adquirir a Quinta do Cabo da Marinha, com um enquadramento paisagístico de grande qualidade, arvoredo e espaço aberto, que permitirá aumentar em mais de um terço o espaço disponível para a festa e alargar significativamente a sua ligação à baía do Seixal", congratulou-se Jerónimo de Sousa.

Outro dirigente comunista, Alexandre Araújo, esclareceu as verbas envolvidas, cerca de 950 mil euros, e referiu que a campanha de angariação de fundos deverá começar no mês de Outubro, com o objectivo de a dívida ficar saldada até ao "Avante! 2015".

"O partido não recorreu à banca, como disse o secretário-geral. Teve de adiantar um sinal avultado, mas confiamos que esta iniciativa e, como é tradição dos militantes e amigos do PCP, vai ser bem-sucedida", disse, afirmando ainda tratar-se de um terreno que era de propriedade privada.

 

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