Vitorino avisa direita que “não deve começar já a rir”

Ex-comissário europeu compara reacção virulenta do PSD e CDS à indigitação de Costa como um típico caso de stress pós-traumático

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António Vitorino Foto: Enric Vives-Rubio

O socialista António Vitorino considerou este domingo que o grande desafio do Governo será compaginar a sua visão europeia com as reivindicações da sua base parlamentar de apoio."O teste será tanto para o Governo, que terá que conciliar a sua base de apoio com os compromissos, como para a coligação, que estando interessada em voltar ao poder não pode ser indiferente à maneira como se cumprem os compromissos europeus". Por isso, o antigo comissário europeu, advertiu que a coligação "não deve começar já a rir", pois "não basta responder que o Governo é ilegítimo". Num regime-presidencialista, alertou, “o Presidente da Republica tem um papel moderador”. Cavaco Silva, durante os seus dois mandatos, “tentou desempenhar esse papel de poder moderador, mas há que reconhecer, não teve muito sucesso”. A estabilidade e a continuidade das politicas europeias – questão central no Fórum Empresarial Algarve, em que o ex-comissário europeu participou,  uniu políticos e empresários. O compromisso da trajectória do ajustamento das finanças públicas, suavizou António Vitorino, “pode ser mais ou menos acelerado ”. De resto, acrescentou, “ a própria coligação apresentou-se [ a sufrágio eleitoral]  com um  programa chamado suavização da austeridade”. E a sobrevivência do Governo de António Costa, sublinhou, reside em saber “compaginar a sua filiação nos objectivos no euro, com as reivindicações da sua base parlamentar de apoio”.

Quando a oposição acusa o Governo de ser “ilegítimo", António Vitorino compara a crítica politica a uma situação de “stresse pós-traumático”, resultante da perda do poder. Mas, quando chegar ao cerne das questões europeias, enfatizou, “não pode ser indiferente à maneira como se cumprem os compromissos europeus”. E o antigo comissário europeu manifestou a confiança de que no equilíbrio das contas públicas: “Alguém acredita que este Governo só fará ajustamento pelo aumento da procura interna?”. 
O socialista falava durante a conferência "Crise política", que juntou no mesmo painel Henrique Neto, António Vitorino, António Ramalho e André Gorjão Costa. A instabilidade política a que se assistiu nos últimos dias em Portugal é "típica" de um sistema semipresidencial, em que, quando não existe convergência entre o Presidente da República e o Parlamento é criada uma situação de atrito. Mas a questão central, segundo este socialista que participou na revisão da Constituição,  encontra-se  no “definhamento da democracia representativa por incapacidade de reformar o sistema eleitoral e vamos ser objetivos: com esta composição parlamentar, como dizem os espanhóis, "ni hablar" [nem falar]".

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