Vieira da Silva: do “primeiro-ministro no exílio” ao Malhão, Malhão

Ministro acusa PSD de nada ter a dizer sobre o orçamento, não se compromete com alargamento dos escalões do abono de família e garantiu que no orçamento de 2017 será já criada a prestação única de combate à pobreza para as pessoas com deficiência.

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Vieira da Silva, ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social Nuno Ferreira Santos

À falta de discussão sobre medidas específicas e concretas do Orçamento, o debate desta terça-feira tem sido pródigo em referências musicais. As intervenções do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social não fugiram à regra, e Vieira da Silva apontou o dedo ao PSD para dizer que o partido tem feito “intervenções com pouca substância” porque os seus deputados ainda não aceitaram o resultado das eleições e “parecem estar à espera do comboio na paragem do autocarro”, como reza a música de Sérgio Godinho, cantautor que tem sido sobejamente citado no Parlamento.

“Têm na vossa bancada alguém que parece desempenhar o papel de um primeiro-ministro no exílio”, apontou o ministro socialista enquanto Pedro Passos Coelho se ria e abanava a cabeça em sinal negativo. “Parecem a equipa de futebol amador que perde o jogo e fica ao canto do campo a reclamar do derrotado”, acrescentou, somando depois a referência à música de Sérgio Godinho.

O ministro socialista reagia assim aos comentários do deputado Adão Silva, do PSD, que lhe apontara “duas tiradas de bravura e outras duas de bravata”, e ironizou ser uma “bravura” Vieira da Silva dizer que PSD e CDS não ganharam as eleições e que este é o orçamento do PS. O social-democrata confrontou ainda o ministro com duas "incoerências" da proposta do Governo: o documento prevê um crescimento do emprego de 0,8%, um terço abaixo do que aconteceu em 2015, ao mesmo tempo que o “crescimento das contribuições para a Segurança Social é de sete vezes mais” e que preconiza uma “queda acentuada no subsídio de desemprego”.

Vieira da Silva admitiu que o Governo gostaria que o crescimento do emprego “fosse maior” e garantiu que pelo menos o emprego em 2016 vai “ser diferente” do criado em 2015: “não vai estar tão dependente da subsidiodependência; não estará dependente de tantos empregos falsos, de tantos estágios pagos a peso de ouro”. E explicou que o valor das contribuições depende do crescimento económico, do aumento salarial e das políticas activas para melhorar a eficiência do sistema.

Aproveitou para, respondendo a uma pergunta do socialista Tiago Barbosa Ribeiro sobre o impacto da austeridade e da emigração, deixar a bicada à direita, alegando que o país perdeu meio milhão de empregos desde 2011, e as receitas para a Segurança Social caíram 3000 milhões de euros entre 2011 e 2014. Haveria de desafiar com insistência a direita sobre como ia cortar 600 milhões de euros nas pensões, como prometera em Bruxelas.

Questionado pelo bloquista José Soeiro sobre se aceitará o reforço do 2.º e 3.º escalões do abono de família que o BE vai propor na especialidade, Vieira da Silva considerou a pobreza infantil uma “questão crítica” mas deixou uma resposta dúbia: “Estaremos obviamente disponíveis para discutir todas as propostas; sabemos que só virão de uma parte da bancada, mas é isto a democracia.”

O deputado do CDS Filipe Lobo d’Ávila disse que a intervenção inicial de Vieira da Silva sobre o orçamento, que tentou marcar as diferenças entre as propostas do Governo neste orçamento e o que poderiam ser as da direita, foi uma “versão politiqueira, no género musical do Ó Malhão, Malhão. O centrista foi depois buscar declarações de Vieira da Silva e Eduardo Cabrita enquanto deputados para criticar os baixos aumentos das pensões que agora enquanto ministros defendem, questionando-os sobre o seu “sentido de justiça”. “O pior inimigo do Estado social é o Estado falido. Apelo ao técnico [Vieira da Silva] e não ao político porque de politiquices está o país cheio”.

Questionado pela comunista Diana Ferreira e pelo bloquista Jorge Falcato sobre a prestação única de combate à pobreza nas pessoas com deficiência que na sua declaração inicial o ministro afirmara acreditar que irá fazer parte do orçamento para 2017, Vieira da Silva disse ser “exigente” colocar nessa prestação “o direito ao trabalho e o direito à prestação”, mas avisou “contar com o esfoço das nossas bancadas para encontrar um modelo que seja sustentável”.

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