Viagem à Europa

É possível que esta espécie de turismo eleitoral impeça Costa de repetir as figuras de Varoufakis em Bruxelas.

Chegou a vez de António Costa fazer o passeio dos tristes. Foi a Itália falar com Renzi (e aproveitou como bom jacobino para cumprimentar o Papa de “esquerda” e o convidar para vir a Lisboa, com um pretexto frívolo). A seguir foi a França falar com Hollande (um grande amigo, claro) e exibir-se sorridente e grave à porta do Eliseu.

Fora que nem Renzi, nem Hollande o podem ajudar, a viagem talvez não tenha sido inútil. É possível que esta espécie de turismo eleitoral impeça Costa de repetir as figuras de Varoufakis em Bruxelas, para as quais, de resto, não é emocionalmente dotado. E também não é de excluir que de caminho aprendesse em primeira mão alguma coisa sobre o estado lastimoso da Europa e sobre o pouco que pesam as desgraças de Portugal na balança política dos “grandes”.

Claro que António Costa já lera com certeza centenas de relatórios sobre o assunto. Mas nada substitui a confirmação de quem sabe e viu. A sra. Merkel e o sr. Hollande (já sem força política) estão os dois perante a presuntiva desagregação da Europa. Ao contrário do mito que mais tarde sustentou a propaganda oficial, a Europa nasceu de uma série de circunstâncias largamente aleatórias e, mais do que isso, irrepetíveis. Acontece que hoje as circunstâncias lhe são desfavoráveis. Para a Europa do Leste (que a Rússia ocupava), a “Europa” era a solução para o seu isolamento e a sua pobreza. Mas não foi. O Estado social, sempre uma ilusão, continua hoje como era ontem; a democracia é, excepto na Polónia, uma democracia limitada e muito vigiada; a miséria não desapareceu e até, para muita gente, aumentou; e o isolamento continua. A sra. Merkel e o sr. Hollande, com pouco dinheiro ou sem dinheiro nenhum, precisam de mudar tudo isto.

Não vale a pena insistir nas depredações que a evolução do mundo acabou por trazer à economia da Europa Ocidental. Vale a pena perceber que o desastre não foi uniforme e que a Catalunha, a Lombardia, a Escócia, os departamentos do Sudeste da França, que não deixaram de prosperar e de se expandir, se querem livrar dos velhos limites nacionais numa Europa que não interfira na sua vida. Para tratar destes problemas os “contribuintes líquidos” variam entre quatro e cinco e contribuem regularmente menos. É neste campo de aflição e derrota que António Costa desembarca, agitando as desventuras de Portugal. Não se deve surpreender se não o tratarem com a compreensão e complacência que ele espera. 

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