Vasco Lourenço acusa Governo de empobrecer o país intencionalmente

Foto
Para Vasco Lourenço, a prossecução desta política vai gerar situações “absolutamente degradantes” Daniel Rocha

Vasco Lourenço acusa o Governo de estar a empobrecer o país de forma “intencional” e ao serviço do capital financeiro internacional, o que classifica de “criminoso”.

“É criminoso. Na minha opinião, não é falta de competência, porque eu não quero acreditar que eles [o governo] sejam tão estúpidos que não percebem que assim não atingimos a recuperação mantendo o bem-estar da população”, afirma.

Em entrevista à Lusa, o “capitão de Abril” mostra-se convicto de que o empobrecimento do país é intencional, fruto de uma ideologia neoliberal que quer “empobrecer o povo, provocar desemprego, criar a situação de terra queimada para a seguir tentar plantar de novo começando quase do zero”.

Para Vasco Lourenço, a prossecução desta política vai gerar situações “absolutamente degradantes”, como o aumento dos suicídios, da emigração e a destruição do país. “Por isso, não os considero absolutamente nada patrióticos. Estarão ao serviço do capital financeiro internacional. Ao serviço do nosso país eu penso que não estão”.

Na lógica do destruir para plantar de novo, o responsável não tem dúvidas de que os novos “agricultores” seriam empresas estrangeiras, uma vez que já se está “a vender ao desbarato e a retalho o país”.

Vasco Lourenço lamenta que o Governo diga “ufanamente que as exportações estão a aumentar e encubra que a grande fatia das exportações é o ouro que está a ser comprado às pessoas” e que depois é fundido e exportado.

O “capitão de Abril” não tem dúvidas de que Portugal está mais perto da ditadura do que da democracia.

“Quando pegamos na Constituição e dizemos, como disse Miguel Relvas aqui há uns tempos, que em momentos de crise a constituição é um fait-divers, um pormenor, quando o Tribunal Constitucional toma determinadas atitudes e o executivo não liga, quando se defende abertamente que se devia acabar com o Tribunal Constitucional, porque o Governo deve estar acima de tudo isso, são situações de ditadura e não democracia”.

O “ditador” é, na opinião de Vasco Lourenço, o “capital financeiro que está cego pelo lucro intensivo e imediato e não vê que está a matar a sua própria galinha dos ovos de ouro”.

Mas alerta que “vem aí a revolta dos escravos” e que por este andar haverá violência. “Eu só espero que quer as forças de segurança quer as forças armadas não aceitem ser instrumentos de repressão perante a população quando ela se revoltar, porque provavelmente os ditadorezinhos vão tentar impor a sua vontade”.

Ataque ao jornalismo é estratégia para atingir sociedade não democrática
Vasco Lourenço acredita que o “ataque” à comunicação social é uma estratégia para atingir uma sociedade não democrática. “Se eu pretendo atingir determinados objectivos e criar determinado tipo de sociedade tenho que atacar tudo aquilo que dificulte a conquista desses objectivos. Se pretendo atingir uma sociedade não democrática, uma sociedade extremamente injusta, empobrecida, com desemprego enorme, tenho que atacar impressa livre”, afirmou.

No contexto de crise que o país atravessa, Vasco Lourenço não crê que os despedimentos, os cortes orçamentais, a venda de títulos e a possibilidade de privatizações sejam apenas fruto da austeridade, justificando-os com o facto de a comunicação social livre ser “um dos maiores obstáculos” a que se consiga atingir uma sociedade não democrática.

“Vejo o ataque que se está a preparar para fazer à Lusa. Se nós acabarmos com a agência de informação livre e autónoma, como tem funcionado, (...) acaba praticamente com tudo”, considerou.
A seguir vem a televisão, diz Vasco Lourenço, convicto de que tudo está preparado para que não haja “instrumentos de luta contra os neoliberais”.

Quanto à possível compra de vários títulos de jornais e de rádios por um grupo angolano, o responsável considera que “está a haver o reverso da medalha” da colonização. “Espero que se quiserem [os angolanos] ocupar aqui espaço e quiserem actuar, se integrem e queiram actuar numa sociedade democrática e não venham a querer explorar de uma forma agiota para colaborar na construção da sociedade que os neoliberais estão a tentar construir aqui”.

Guerra na Europa é “inevitável” e Portugal deve sair do Euro
O “capitão de Abril” considera que uma guerra na Europa é inevitável, se esta se continuar a “esfrangalhar”, e defende a rápida saída de Portugal do Euro, preferencialmente em conjunto com outros países na mesma situação.

“A Europa vai esfrangalhar-se, vem aí a guerra inevitavelmente”, disse, referindo-se à “destruição do estado social” e à “falta de solidariedade que está a haver na Europa”.

O presidente da Associação 25 de Abril, em entrevista à agência Lusa, recordou que a Europa tem atravessado o maior período de paz da sua história, desde a Segunda Guerra Mundial, o que só foi possível graças à conquista pelos cidadãos do direito ao Estado social, à protecção, à saúde, à educação e à segurança social.

Recorrendo à fábula da rã que é cozida sem dar por isso, porque está dentro de uma água que vai aquecendo aos poucos, Vasco Lourenço não tem dúvidas de que é preferível a ruptura do que “deixarmo-nos cair no abismo para onde este Governo e a Europa nos estão a atirar”.

Como alternativa aponta a saída atempada e programada da União Europeia e do euro, manifestando esperança de que haja condições para Portugal ser capaz de se ligar a outros países nas mesmas circunstâncias e tentarem encontrar soluções colectivas.

“Se possível seria ideal sairmos com outros países, porque as dificuldades serão muito maiores se sairmos isolados. Agora se houver um conjunto de países que estão em dificuldades que se unam e concertem a sua saída do euro, é capaz de ser muito melhor e dá-nos a possibilidade de darmos a volta por cima”.

Reconhecendo que não será fácil conseguir essa articulação, Vasco Lourenço mostra-se convicto de que muito provavelmente os outros países em situação semelhante à portuguesa estarão a discutir o mesmo tipo de possíveis saídas.
“É preciso juntar esforços e chegar à conclusão que todos teremos a ganhar se unirmos esforços dos vários países contra quem está neste momento a ocupar-nos não militarmente, mas financeira e economicamente”, disse.

Sugerir correcção
Comentar