Uma coligação inevitável à direita

Cavaco pediu consensos. Não deveria estar propriamente a pensar na coligação PSD-CDS/PP.

Paulo Portas e Passos Coelho escolheram uma data carregada de simbolismo para anunciar aquilo que há muito se adivinhava, uma coligação pré-eleitoral. Não porque os dois morram de amores um pelo outro, mas porque seria inevitável que tal acontecesse. PSD e CDS/PP olham para as sondagens e sabem que juntos conseguem pelo menos alcançar a margem de erro, ou seja, mesmo após quatro anos de desgaste e muita austeridade pelo meio ainda sonham com uma vitória em Setembro/Outubro. E sabem que a arquitectura do sistema eleitoral português favorece partidos coligados e sabem ainda que ir a votos cada um por si apenas seria concebível num cenário em que já dessem como certa a derrota.

Para além da matemática dos votos e das sondagens, em termos de conteúdo qual seria o discurso de um e de outro em campanha, se optassem por caminhos separados? Qual deles carregaria o fardo de quatro anos de austeridade, muitas vezes em dose excessiva? Qual reclamaria para si os louros das reformas estruturais? Iria haver agressão mútua na campanha?

A coligação pré-eleitoral é um caminho natural que será percorrido pelos centristas e pelos sociais-democratas, até porque o mais difícil já ficou sanado. E o mais difícil era encontrar uma linha programática que servisse de denominador comum ao discurso, à ideologia e ao eleitorado de ambos. Essa linha passou a ser o Programa de Estabilidade (PEC) e o Programa Nacional de Reformas que foram apresentados ao país há uma semana com propostas de governação para a próxima legislatura. Até as linhas vermelhas de Paulo Portas que ameaçavam fazer perigar a coligação – como a questão da sobretaxa de IRS – foram ultrapassadas com um compromisso de alívio faseado da austeridade até 2019.

O entendimento PSD-CDS/PP é confirmado no mesmo dia em que Cavaco Silva, no tradicional discurso do 25 de Abril, voltou a apelar, pela enésima vez, aos consensos, dizendo que os “compromissos interpartidários” são uma necessidade intrínseca do nosso sistema político. O Presidente, apesar de estar na recta final do mandato, sabe que ainda lhe caberá a tarefa de ter de dar posse ao próximo governo suportado por uma maioria estável, numa altura em que as sondagens não dão esse respaldo e num período em que a janela eleitoral (das legislativas e presidenciais) inviabilizará a dissolução da Assembleia. E a coligação PSD-CDS/PP, também a julgar nas sondagens, não lhe resolve esse problema. Cavaco estaria provavelmente a pensar num PS, dado como o mais provável vencedor. Mas para isso sabe que é preciso mais do que uma coligação entre partidos da mesma família política; seria preciso encontrar pontos de contacto entre o PEC e o relatório Uma década para Portugal, o que se afigura difícil de acontecer. E não tem (só) a ver com aquilo a que Cavaco chama “querelas estéreis”; existem algumas diferenças ideológicas profundas, o que não é necessariamente mau em democracia.

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