Um visto nada gold para a remodelação

A demissão de Miguel Macedo força Passos a ficar cara a cara com o que não quer: uma remodelação.

Na véspera, na televisão, Marques Mendes tinha avisado: se Miguel Macedo quisesse sair do Governo sairia. Mesmo que Passos o tentasse demover.

Pois foi isso mesmo que Macedo ontem fez, numa declaração lacónica no seu ministério, poucas horas depois de ser anunciado que daria uma conferência de imprensa. E a notícia da demissão não tardaria a circular, mesmo antes de ser oficialmente confirmada. Passos Coelho, que até aqui tem andado a segurar ministros como um ocupante de uma casa a ameaçar ruína segura as paredes, viu desabar diante de si, com estrondo, um ministério de peso. Miguel Macedo alegou “convicções pessoais e políticas” (a investigação dos vistos gold foi o detonador, nem precisava de falar nisso), disse que fez a “reponderação” que Passos lhe pediu mas, ainda assim, concretizou mesmo a sua “intenção pessoal”: “Saio para defender o Governo, a autoridade do Estado e a credibilidade das instituições”. Teve, ao menos, o brio que outros não tiveram em situações igualmente embaraçosas. Não, ele não ficou para segurar paredes em ruínas. Achou melhor “segurá-las” por fora. E Passos, o que fará agora? Numa semana onde se atropelam as inquirições dos vistos gold e os inquéritos ao caso BES-CES, ambos assuntos incómodos para a maioria, ele vai ser forçado a uma remodelação no Ministério da Administração Interna que poderá reduzir ao mínimo (nomeando novo ministro e tentando reconduzir os secretários de Estado) ou, pelo contrário, e para isso está já a ser “empurrado”, aproveitar para uma remodelação mais ampla que dê novo fôlego (se é que tal é ainda possível) ao Governo que tutela. O cenário, faça ele o que fizer, é incómodo: as relações PSD-CDS voltam a ser crispadas, a síndrome da desconfiança paira pelos corredores e, com escândalos a saltarem para a ribalta da Justiça a uma velocidade superior à normal, não haverá uma remodelação pacífica mas sim um “remendo” numa estrutura frágil. A casa está, na verdade, e há muito, a ameaçar ruína. Embora os ocupantes finjam que não.

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