Um futuro imperfeito

O mundo não muda à conveniência do freguês.

Segundo as sondagens, a coligação CDS-PSD teria agora 35 por cento dos votos e entre 98 a 103 lugares na Assembleia da República contra 37,5 por cento dos votos e entre 100 a 105 lugares do PS.

Dando por garantido que nem o PC, nem o Bloco seriam um apoio sólido para os socialistas, ficariam os pequenos partidos como último recurso de António Costa: PDR de Marinho Pinto com dois lugares e o Livre, na melhor das hipóteses, com outros dois. Se, em Outubro, chegarmos a uma situação destas, será um desastre pior do que o de 2011. O país conseguiu aguentar a “austeridade”, ou seja, a pobreza, a miséria e, no caso da nova classe média, a queda de uma vida e de um estatuto, adquiridos com muito esforço e muito recentemente, porque existia em S. Bento uma maioria absoluta e uma vontade, que nunca oscilou, de não fazer concessões.

O próximo parlamento, de acordo com a sondagem e com o clima geral do país, trará com ele uma irremediável instabilidade política. Pedro Passos Coelho explicou ontem, numa entrevista ao Expresso, por que razão António Costa não se vai aguentar, mesmo dentro do PS, com poucos votos de vantagem. Disse ele que o próximo governo não poderá seguir uma política “radicalmente diferente” daquela que ele próprio seguiu e que, quando não há dinheiro, “não há keynesianismo que valha”, ou mais precisamente, não há keynesianismo. Os radicais, que por aí andam às costas da miséria do próximo, não percebem isto e tratarão de criar toda a espécie de sarilhos dentro e fora do PS para levar Costa ao bom caminho; enquanto os moderados tentarão impor algum realismo e algum senso da responsabilidade, duas virtudes que historicamente a esquerda não conhece.

Quando as questões de hoje passarem para o interior do governo, como passarão sem a maioria esmagadora que o PS pediu e a que está longe de chegar, os mercados financeiros, para grande fúria dos crentes, irão inevitavelmente tomar nota e subir os juros do mais preliminar empréstimo. Ninguém confia o seu dinheiro a um regime fraco, turbulento e, ainda por cima, radical. Os banqueiros, não sei se repararam, usam sempre gravata. António Costa, não sendo estúpido, sabe perfeitamente tudo isto, e porque o sabe, dá uma no cravo e outra na ferradura, ou cala a boca com um desespero inútil e crescente, ou adia para um futuro indeterminado a revelação que sossegará o povo e a tropa fandanga do radicalismo de esquerda. Não lhe servirá de nada. O mundo não muda à conveniência do freguês.

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