Um dia depois, três candidatos e um Congresso no PS

O desafio à liderança já se adivinhava desde domingo. Costa não esperou muito para abrir a porta à clarificação.

Foto
António Costa deixou claro que não se demite mas tem dois rivais para disputar a liderança do PS Paulo Pimenta

Os cadernos eleitorais ainda não arrefeceram e já há militantes a posicionar-se para disputar a liderança do PS com António Costa. Depois da declaração de força assumida no dia da derrota assegurando que não se demitia, o secretário-geral socialista concretizou a sua disponibilidade para a clarificação interna. O líder aproveitará a reunião desta terça-feira para o fazer. Apresentará à Comissão Política uma proposta para a realização de um Congresso.

A decisão de Costa resulta da sua própria iniciativa enquanto líder. O secretário-geral tem o poder de convocar um congresso em qualquer momento. No último Congresso, no final do ano passado, foram revogadas algumas das disposições impostas por António José Seguro. Os estatutos definem a duração de dois anos para os mandatos internos, embora se admita a "possibilidade de ajustamentos do calendário eleitoral interno quando tal for reconhecido pela Comissão Nacional, tendo sobretudo em atenção os ciclos eleitorais". 

No mesmo dia começaram a manifestar-se apoios. Entre estes, o do histórico socialista, Manuel Alegre. "O PS não implodiu, teve um resultado honroso, não é para cantar vitória, mas mantém-se como a principal força de esquerda e como uma referência fundamental da democracia", citou a Lusa. "Não vamos tentar destruir esse capital político do PS, que tem agora um líder que se adapta a essa circunstância. É fundamental que António Costa se mantenha firme à frente do PS", rematou.

Mas por essa altura já Álvaro Beleza havia tomado posição. “Sou candidato”, confirmou esta segunda-feira, embora admitindo “desistir se houver alguém com melhores condições”. O anúncio do médico acontece perante o silêncio do eurodeputado Francisco Assis. O ex-membro da direcção trabalha já para arregimentar os descontentes com António Costa. Nas contas dessa revolta entram as estruturas onde o segurismo mantém ainda algum poder. E há militância potencial, asseguram os desafiadores da actual liderança, em Setúbal, Leiria, Santarém, Bragança, Braga, Porto e Coimbra.

No PS, as movimentações vão ganhando velocidade. De acordo com vários dirigentes distritais e locais do PS, já estão marcadas “reuniões oficiais e para-oficiais em quase todos os distritos hoje à noite [segunda-feira]”, para preparar uma estratégia para a comissão política que se aproxima.

No entanto, parece que Beleza não vai conseguir congregar todos. Segundo a Rádio Renascença, Rui Prudêncio, antigo presidente da Federação Regional do Oeste do PS, admitiu avançar também. Tal como Beleza, apoiou o ex-líder do PS, António José Seguro, no combate das primárias, que disputou com o actual secretário-geral dos socialistas.

Enquanto Beleza e Prudêncio dão sinais de ir a jogo, Francisco Assis continua em silêncio absoluto. O que se sabe é que o eurodeputado não estará na reunião da Comissão Política. O parlamentar europeu, que há já algum tempo está a ser pressionado para disputar a liderança, terá conversado com António Costa na noite de domingo, mas a conversa entre ambos parece estar no segredo dos deuses.

Particularmente no Porto, Assis terá bastantes apoios, mas o ex-líder da bancada parlamentar não parece disponível para disputar a liderança nesta altura. De resto, em declarações ao PÚBLICO na semana passada, Francisco Assis afastou qualquer intenção de avançar, avisando que “não patrocinará nenhum movimento dentro do PS” com vista a uma candidatura sua e sai em defesa do secretário-geral. “Não tenho a mais pequena disponibilidade para ser candidato”, frisou.

A ala socialista mais conotada com Seguro olha com alguma desconfiança para Álvaro Beleza. Consideram que o ex-membro do secretariado nacional do PS “não tem experiência e não teve capacidade negocial nem para a comissão política nem para a lista de deputados”. “Ele faz mal em avançar. É um erro”, atira o ex-vice-presidente da bancada parlamentar socialista José Junqueiro, que aplaude a decisão de António Costa de propor a realização de um congresso. “Era isso que António Costa deveria ter dito na noite de domingo “, defende o ex-líder da distrital do PS de Viseu, vincando que o congresso deve ser electivo e terá de ser antecedido de primárias, porque – vinca – “o actual líder foi eleito em primárias”.

Junqueiro desafia personalidades do PS como António Vitorino e Jorge Coelho a “sair da sua zona de conforto e a ir ao congresso apresentarem-se como alternativa”. “No PS há um conjunto de personalidades, que têm uma grande capacidade e que têm a obrigação de aparecer e dizer que estão disponíveis “, afirma ainda o ex-deputado, sublinhando que se o congresso for electivo e não houver ninguém disponível para ser candidato significa isso que o partido se resignou” com o resultado eleitoral das legislativas.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários