Um debate quente, mas inconclusivo

Passos Coelho optou pela estratégia de usar as armas do adversário para o desarmar.

O debate quinzenal desta sexta-feira, se dúvidas houvesse, é a prova de que as “divergências insanáveis” vieram para ficar. Passos Coelho utilizou uma estratégia que apanhou António José Seguro algo desprevenido. O primeiro-ministro foi recuperar um estudo feito pela Comissão Europeia que avaliou a possibilidade de uma eventual mutualização da dívida pública acima de 60% do PIB e a criação de eurobonds, dois assuntos caros aos socialistas.

E o que diz o tal estudo? Para que a Europa dê um passo nesse sentido, os países que se candidatassem a essa solução teriam sempre de mostrar serem “capazes de reduzir os défices e exibir excedentes primários”. Além disso, teria de haver uma grande transferência de soberania nacional para a esfera comunitária, dando a Bruxelas, inclusive, o poder de vetar orçamentos nacionais. Ou seja, Passos Coelho optou por usar uma medida que o PS há muito reclama, e que tem apresentado como panaceia para todos os males da economia, para a usar como argumento para justificar a actual dose de austeridade, à qual os socialistas se opõem.

O que Passos omitiu no debate é que o tal grupo de trabalho também chegou à conclusão de que, verificadas essas premissas, quer a mutualização quer os eurobonds teriam impactos positivos na estabilização das condições de financiamento dos Estados-membros e que, a par da disciplina orçamental, os países teriam de promover o potencial de crescimento das respectivas economias. Mas num debate em que os interveniente usaram expressões como “baixo nível” e “manobra de diversão”, naturalmente que o essencial ficou por discutir. E ficámos sem saber se um e outro estão dispostos a dar os passos que nos são exigidos, nomeadamente a cedência de mais soberania, em troca de uma maior solidariedade por parte dos nossos parceiros.
 

  



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