"Um bom leitor é em geral um bom aluno"

Isabel Alçada, assessora para a Educação da Presidência da República, explica os objectivos e o formato dos Encontros com Escritores, em Belém.

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Isabel Alçada: "Um escritor é alguém com alguma coisa especial a dar" Daniel Rocha / PUBLICO

Antes de ser assessora de Marcelo Rebelo de Sousa, Isabel Alçada foi ministra da Educação do último Governo de José Sócrates e é, ela própria, escritora de livros infanto-juvenis. Agora, foi só pegar em toda esta experiência e construir uma aventura..., melhor, uma iniciativa que coloca alunos no Palácio de Belém à conversa com escritores ao mesmo tempo que os aproxima dessa instituição democrática e republicana que é a Presidência. Porque um bom leitor é, em geral, um bom aluno, lembra. E, assim, também pode ser melhor cidadão.

Qual é o objectivo destes encontros com escritores em Belém?
O grande objectivo é promover a leitura. É uma iniciativa da Presidência da República, em que o Presidente dá um sinal nítido de que está empenhado – e toda a gente sabe o interesse que ele tem por livros e pela leitura – neste trabalho da promoção da leitura e sabe que este encontro com os escritores pode motivar este gosto. E sabemos, há estudos que o comprovam, que um grande leitor se pode fazer desde que tenha gosto pela leitura, pelo mergulhar nessa realidade alternativa que é dada pelo livro. Aqueles que só lêem para estudar não são os leitores plenos, só o trabalho de leitura empenhada, envolvida, devolve a competência de ler nas crianças e jovens.

Da sua experiência pessoal, o que é que muda num leitor depois de conhecer o autor? Dessacraliza-o?
Eu acho que dessacraliza e também sacraliza, não no sentido liberal, mas é importante que se perceba que o escritor é uma pessoa que tem alguma coisa de especial a dar e que a criação é uma actividade admirável – não estou a falar como autora, mas como leitora – e que as crianças percebam que é fantástico conseguir inventar histórias, que é fantástico usar a língua de uma forma muito diversificada, e essas pessoas que escrevem de maneira geral têm muita coisa a dizer. Esse convívio também transmite valores, conhecimento, inspira-os para conhecerem melhor o mundo, aprofundarem um ou outro aspecto que um escritor lhes traga. É um encontro que é educativo e vantajoso em todas as dimensões.

Não só promove a leitura como também incentiva a criação?
Sim, a ideia de dessacralizar tem sentido porque eles percebem que a pessoa que escreve, embora tenha características especiais, é uma pessoa de carne e osso, e portanto que eles próprios também podem criar. Quando os professores os incentivam a escrever as suas histórias, os seus poemas, as suas ficções, ou quando os escritores os aconselham, ao mesmo tempo eles percebem que não é uma actividade que cai do céu.

É preciso trabalho…
É preciso esforço. Os escritores geralmente são pessoas convictas, que defendem muito o seu trabalho e a sua obra. No convívio, os jovens vêem que o esforço intenso enche as pessoas. Um escritor esforça-se, tem sempre dúvidas, sabe que não é o maior naquilo que faz, tem sempre questões, mas é um esforço que vale a pena porque é alguém que tem muito para comunicar. Mas todos os escritores são diferentes. Há uns que têm um enorme poder de comunicação, outros menos, uns são brincalhões, engraçados…

E depois do encontro, este trabalho termina?
O trabalho não se esgota no encontro com o escritor. Nas escolas, eles debruçam-se sobre aquela temática, sobre o livro do escritor. Depois vêm e quando voltam devem continuar alguma coisa na escola. Podem fazer trabalhos sobre o escritor, ou sobre o que aqui viram, sobre a obra, podem escrever ao escritor, podem criar.

A iniciativa vai ter continuidade no tempo?
Sim, é para continuar, tanto esta como outras. Já temos ideias para outros encontros com cientistas e com artistas plásticos. Mas também é importante sublinhar a importância da leitura para o sucesso escolar, porque é transversal em termos disciplinares. Um bom leitor é, em geral, um bom aluno.  

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