Um balde de água fria na coligação?

Os dois parceiros de coligação ainda não alinharam um discurso único sobre o alívio da carga fiscal.

Desde que ficou incumbido de fazer o guião da reforma do Estado que Paulo Portas apontou como objectivo para 2015 baixar os impostos às famílias. É uma bandeira que o CDS agarrou desde muito cedo – para grande desconforto do PSD – e que se preparava para hastear em 2015, ano de eleições. Às vezes foi mais incisivo, às vezes menos, mas Portas nunca largou a bandeira. No início do ano dizia que “em 2015 deveremos ser capazes […] de dar início a uma moderação do IRS". E na semana passada voltou a defender a “moderação fiscal”.

Mas o discurso da ala CDS do Governo (Portas, Pires de Lima e Paulo Núncio) nem sempre está alinhado com a ala PSD. Quando, em Julho, Pires de Lima veio dizer que impostos elevados prejudicam a economia, Maria Luís Albuquerque reagiu dizendo que “não há dois discursos no Governo”, apenas “formas de nos expressarmos que são diferentes”.

Mas a forma de expressão não é a única coisa que os separa.  Esta sexta-feira, quando confrontado com a possibilidade de o Orçamento para 2015 contemplar um alívio fiscal, Passos Coelho disse: “Tenho dúvidas que tenhamos um grande espaço para fazer coisas dessas”. O primeiro-ministro já não está a colocar a questão em termos de quem irá hastear a bandeira, mas sim se haverá alguma bandeira para içar.

A oposição, pela voz do recém-eleito líder parlamentar do PS, não desperdiçou a oportunidade. De acordo com Ferro Rodrigues, a questão sobre o teor das afirmações de Passos "é boa para ser colocada ao dr. Paulo Portas".

Já é mais do que tempo de Passos e Portas alinharem o discurso em relação a impostos. E antes de prometerem ou insinuarem um alívio da carga fiscal deveriam fazer as contas para saber se o orçamento tem folga para tal. Pior do que ter discursos desalinhados na coligação, é enviar sinais que podem ser enganadores para os portugueses.

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