TVI debate o futuro “em aberto” do jornalismo

"Até 2015 assistir-se-á à “morte e luta feroz dos órgãos de comunicação social pela sobrevivência", diz Marcelo Rebelo de Sousa.

É um mundo de mudanças aquele em que o jornalismo vive hoje. Constantes, apressadas, multifacetadas. Por isso, por mais que se debata, se inquira, se tente prever e adivinhar, “o futuro está em aberto”. Isso mesmo concluiu nesta terça-feira a administradora da TVI, Rosa Cullell, que encerrou a conferência intitulada “Como vai ser o jornalismo nos próximos 20 anos? Até sabermos a resposta continuamos a fazer perguntas”.

A conferência foi uma das iniciativas para assinalar os 20 anos da TVI, que se comemoram nesta quarta-feira e acabou por ficar marcada pelo incidente dos protestos contra Miguel Relvas. Mas antes, durante todo o dia, jornalistas, académicos, administradores de empresas de media trocaram ideias sobre o futuro do jornalismo no ISCTE.

Desde que a TVI foi fundada, então com outra filosofia, a televisão sofreu muitas transformações. Houve “mudança, ameaças e oportunidades. Em 20 anos mudou muita coisa, mas este tempo de mudança não terminou. Pelo contrário, acelera a cada dia que passa.” Já não faz sentido falar-se hoje de rádio, televisão e online, mas sim de media – e todos fazem serviço público, vincou Rosa Cullell.

É essa multidisciplinaridade que vem baralhar as teorias em que se baseava o jornalismo. E que agora, com as multiplataformas em que pode (e deve) ser apresentado, tem que se reinventar como modelo de negócio, como modo de produção de notícias e até como modelo de abordagem à actualidade. Uma certeza é inquestionável: a rede, primeiro com a Internet nos moldes tradicionais (os meios de comunicação social online) e agora com as redes sociais (algumas assumindo-se como produtoras de conteúdos próximas do jornalismo) veio facilitar e dificultar o modo como se faz jornalismo.

Juan Luis Cebrián, presidente da espanhola Prisa, dona de parte da TVI, assumiu que as redes têm muitos problemas: o maior deles é que os conteúdos que as redes sociais produzem não têm intermediação, que é o valor acrescentado que os jornalistas oferecem na sua abordagem, com a análise e reflexão que fazem. Porque é isso que marca a “informação de referência” que o jornalismo “não pode abandonar”, defendeu Rosa Cullell.

A tecnologia também traz “dificuldades e responsabilidades”, vincou o antigo Presidente da República Jorge Sampaio. O segredo estará na forma de as potenciar e tirar delas proveito. Sampaio lembrou também o problema da concentração, que não é apenas um inimigo, mas também “um tapa-agendas” que pode ser uma armadilha para o jornalismo – que se quer feito por pessoas “mais informadas, atentas aos grandes acontecimentos mundiais e com uma formação dedicada a perceber a diversidade”. “O jornalismo será, de algum modo, o espelho do país”, considerou Sampaio, que colocou a actividade ao mesmo nível dos partidos e dos movimentos sociais como “garantes absolutos da democracia”.

O cenário pintado por Marcelo Rebelo de Sousa foi mais negro – o jurista e comentador acredita que até 2015 assistir-se-á à “morte e luta feroz dos órgãos de comunicação social pela sobrevivência e pela liderança”. “Será um período ingrato para o jornalismo e para os jornalistas. Um período de indefinição constante.” A partir de 2016 o sector, com os media que sobreviverem, vai mudar “imenso”. Mas previsões a 20 anos ninguém faz.

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